Por Redação
24 de outubro de 2025Mulheres no varejo alimentar: o avanço da liderança feminina em supermercados e atacarejos
A presença feminina em cargos estratégicos no varejo alimentar cresce de forma consistente, transformando a gestão, a cultura organizacional e os resultados das redes de supermercados e atacarejos
O varejo alimentar, historicamente marcado pela predominância masculina em posições de liderança, vem passando por uma transformação significativa nos últimos anos. A profissionalização das redes e a valorização da competência abriram espaço para líderes femininas que combinam visão estratégica, capacidade analítica e sensibilidade para a gestão de pessoas. Hoje, mulheres ocupam posições-chave em áreas como comercial, operações e finanças, consolidando a diversidade como tendência sustentável.
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Nos últimos anos, o setor tem vivenciado uma mudança cultural importante. Antes, os cargos de liderança eram quase sempre ocupados por homens da família ou de confiança do fundador; agora, o foco está na competência e no resultado. Essa transformação tem impacto direto na estruturação de processos e na cultura organizacional das empresas, refletindo-se em maior profissionalização e melhores indicadores de desempenho.
Jocy Astolphi Cassimiro, CEO da Rede Plus de Supermercados, ressalta que, com a profissionalização da gestão, o espaço da mulher começou a se consolidar de forma mais natural. “Antes, os cargos de liderança eram quase sempre ocupados por homens da própria família ou de confiança do fundador. Com a profissionalização das redes, o foco passou a ser competência e resultado, e isso abriu espaço para mulheres com perfis analíticos, de gestão de pessoas e visão estratégica”, diz.
Desafios e estratégias para avançar
Mesmo com avanços visíveis, barreiras estruturais e culturais ainda limitam a ascensão feminina e romper modelos tradicionais de gestão, conciliar vida pessoal e profissional e superar o isolamento em ambientes de decisão são desafios enfrentados por muitas executivas. Cíntia Viegas, diretora de Marketing e Trade Marketing da Casa do Arroz, explica que os desafios ainda são reais, principalmente quando falamos de respeito e credibilidade em um ambiente historicamente masculino. “Muitas de nós ainda precisamos provar nossa capacidade. Mas acredito que a autenticidade somada à competência é o caminho. Quando a mulher lidera com propósito, técnica e coerência, ela inspira — e o apoio entre mulheres do setor tem sido essencial para essa evolução”, afirma.
Teresa Cristina Charotta, diretora executiva do IBEVAR, acrescenta que a ausência de programas estruturados de sucessão ainda dificulta o avanço feminino. “O varejo alimentar tem origem em um ambiente operacional historicamente masculino, sobretudo nas áreas de loja, logística e perecíveis. Além disso, muitas vezes as mulheres não estão incluídas nas cadeias de sucessão e nos programas de formação de liderança, o que reduz as oportunidades de promoção. Soma-se a isso o viés inconsciente e a falta de modelos femininos no topo das organizações”, aponta.
Contribuições do olhar feminino na gestão
De acordo com Jocy, o olhar feminino tem trazido equilíbrio entre resultado e relação humana, algo essencial no varejo, onde o desempenho depende diretamente das pessoas. “A liderança mais empática, que busca compreender antes de decidir, tem impacto direto em indicadores como turnover, absenteísmo e produtividade. Além disso, a sensibilidade para entender o comportamento do consumidor e antecipar tendências é uma vantagem competitiva real”, destaca.
Segundo Cintia Viegas, no marketing e trade, a liderança feminina também promove campanhas mais humanas e experiências mais afetivas para o cliente. “O olhar feminino conecta, entende e sente — e isso muda tudo. No marketing e no trade, esse olhar tem trazido campanhas mais humanas, experiências mais afetivas e estratégias mais próximas do cliente. Hoje, meu time é 100% feminino e percebo o quanto essa característica faz diferença na gestão das demandas e na interação com as múltiplas interfaces do negócio”, observa a executiva.
Políticas e programas para fortalecer lideranças
O fortalecimento da liderança feminina requer políticas internas estratégicas como planos de sucessão estruturados, programas de mentoria, formação em governança e acompanhamento por indicadores de desempenho, que são essenciais para consolidar o espaço das mulheres na gestão.
Jocy Astolphi Cassimiro afirma que quando o tema entra na agenda dos conselhos e da alta direção, ele deixa de ser simbólico e passa a ser parte do DNA da empresa. “As ações mais eficazes combinam formação, visibilidade e patrocínio interno. Programas de mentoria e desenvolvimento de liderança feminina são fundamentais quando contam com o apoio da alta gestão. Também é essencial investir em políticas que promovam equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ter redes de apoio, treinamento sobre vieses inconscientes e inclusão de metas de diversidade nos indicadores de desempenho”, complementa Teresa Cristina Charotta.
A diretora de Marketing e Trade Marketing da Casa do Arroz reforça que políticas eficazes consideram a vida integral da profissional. “É fundamental olhar para o ser humano de forma integral, oferecendo condições reais e inspiradoras para que cada mulher possa crescer com equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Quando isso acontece, toda a empresa ganha, cresce e evolui”, ensina Cintia.
Tendências para o futuro
O futuro da liderança feminina no varejo alimentar aponta para crescimento contínuo, impulsionado por governança corporativa, transformação digital e valorização do capital humano. Nesse cenário, redes que estruturam decisões baseadas em dados e programas de formação e sucessão ampliam naturalmente o espaço para diversidade. “As empresas que compreenderem que o futuro do varejo é mais humano, mais digital e mais feminino sairão na frente”, diz Cíntia Viegas.
Para Jocy Astolphi Cassimiro, as redes que estão investindo em programas de formação de lideranças e sucessão já começam a colher frutos, mostrando que a profissionalização e a diversidade caminham juntas. “A visão masculina sobre a competência das mulheres está mudando, isso já é visto em números, com aumento de mulheres em presidências e cargos de C-level no varejo”, vislumbra a executiva.
Teresa Cristina Charotta lembra que a diversidade depende de engajamento coletivo. “O avanço da diversidade de gênero não é uma pauta exclusiva das mulheres. As lideranças masculinas têm papel decisivo como aliados e agentes de transformação. Instituições como o IBEVAR também têm uma responsabilidade importante — gerar conhecimento, promover pesquisas, networking e dar visibilidade às boas práticas. Movimento gera movimento”, finaliza.
