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Entrevista
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Por Redação
2 de dezembro de 2025

"Cerveja é sobre cultura, sabor e encontros, não sobre gênero", diz primeira mulher a assumir cargo de diretora-geral na Estrella Galicia

Expert em comportamento do consumidor e construção de marcas, executiva faz história e quer abrir caminhos em um mercado tradicionalmente masculino

Promovida em outubro, Juliana Aguiar é a nova diretora-geral da Estrella Galicia Brasil, primeira mulher a assumir o cargo na empresa e uma das poucas em postos de comando no segmento de bebidas.

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A executiva atuava como diretora de mercado desde dezembro de 2024 e assumiu a vaga deixada por Thiago Coelho, que esteve à frente da operação por quase três anos. Em entrevista ao portal SuperVarejo, Juliana relembra sua trajetória, fala sobre o posicionamento no mercado, os planos de expansão da companhia e como pretende exercer uma liderança humanizada, próxima e pouco hierárquica.

SuperVarejo: Como sua trajetória a preparou para assumir esse novo desafio à frente da Estrella Galicia Brasil?

Juliana Aguiar: Minha trajetória em empresas como Coca-Cola, Shell/Raízen, L’Oréal e PepsiCo me ensinou a olhar para o negócio além dos números. Aprendi sobre comportamento do consumidor, sobre como construir marcas que fazem parte da vida das pessoas e sobre como liderar times diversos com clareza e empatia. Tudo isso conversa diretamente com o jeito Estrella Galicia de trabalhar, que é ao mesmo tempo estratégico e profundamente ligado à autenticidade, com valores muito centrados em suas raízes, algo raro em grandes companhias. A marca tem uma independência que inspira, uma visão de longo prazo e um respeito enorme pelos processos. Isso se conecta muito com a forma como aprendi a liderar ao longo da carreira.

SV: Como você encara ser a primeira mulher à frente da operação no Brasil?

JA: É um marco importante para mim e para o setor. A indústria de bebidas sempre foi muito masculina e ocupar esse espaço é também um convite para abrir portas para outras mulheres. Para mim, é uma honra, mas também uma responsabilidade de fazer essa jornada valer a pena para quem vem depois.

SV: O Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de cerveja do mundo. Como a Estrella Galicia enxerga sua posição e prioridades para crescer?

JA: O Brasil é absolutamente estratégico. Fora da região ibérica - Espanha e Portugal -, o país é a principal prioridade global da marca, tanto do ponto de vista de consumo quanto de potencial de construção de valor. O consumidor brasileiro é aberto à experimentação, valoriza sabor e tem cada vez mais interesse por qualidade, o que nos coloca em um momento de grande oportunidade. Nossa prioridade agora é ampliar presença nos mercados-chave, fortalecer a categoria Big Craft e seguir expandindo o portfólio com rótulos que traduzem nossa essência artesanal, independente e diferenciada.

SV: Que tipo de parceria com o canal supermercadista você acredita que pode diferenciar a marca no ponto de venda?

JA: Acreditamos que o PDV pode ser uma extensão da experiência da marca. A parceria funciona quando conseguimos transformar a ida ao supermercado em uma oportunidade de descoberta. Nosso objetivo com a categoria Big Craft é mostrar ao shopper que existe um universo de cervejas independentes, feitas com cuidado e qualidade, a um preço justo e que fazem sentido no dia a dia. Isso inclui desde organização de gôndola que facilita a escolha até degustações e conteúdos simples que ajudam o consumidor a entender o que está comprando. No fim, é sobre aproximar a marca do público de forma natural e educativa.

SV: Qual o papel da inovação na estratégia da empresa?

JA: A inovação precisa estar conectada com o comportamento das pessoas e, hoje, vemos um público mais atento à saúde, ao equilíbrio e também ao sabor. Por isso lançamos no Brasil produtos que atendem a esses dois movimentos. Pensando na busca por qualidade e na premmiunização, trouxemos a 1906 Black Coupage, eleita a melhor lager do mundo em 2024. Já a 0,0 Tostada amplia nossa atuação em um segmento que cresce rapidamente entre os jovens, focados em socializar, mas também preocupados em acordarem bem no dia seguinte para seguir sua rotina de treinos. Inovar, para Estrella Galicia, é trazer algo que faça sentido para o consumidor, sempre com muito respeito aos processos e qualidade, não apenas lançar por lançar.

SV: Você já sentiu resistência ao longo da carreira por ser mulher em cargos de liderança? Como lida com isso?

JA: Acredito que todas as mulheres já passaram por alguma situação desconfortável em sua carreira, mas aprendi a transformar esses momentos em aprendizado. Sempre acreditei que consistência e entrega falam mais alto do que qualquer resistência, algo que a Estrella Galicia também tem forte dentro de seus valores. Com o tempo, percebi que também temos a oportunidade de ensinar, provocar mudanças e mostrar outros caminhos.

SV: O que cacteriza o a seu estilo de liderança?

JA: Meu estilo de liderança é humanizado, próximo e pouco hierárquico. Eu gosto de estar junto, conversando, construindo, escutando e entendendo a realidade das pessoas. Ao mesmo tempo, dou bastante autonomia, porque acredito que cada pessoa tem seu próprio estilo, seu ritmo e sua forma de criar impacto. Meu papel é direcionar, garantir alinhamento estratégico e remover barreiras, não controlar cada passo. Sou uma líder informal, acessível e genuinamente interessada nas relações humanas.

SV: É possível garantir um ambiente inclusivo e diverso em um setor tradicional?

JA: Acredito que é preciso criar processos, políticas e rotinas que garantam que as pessoas se sintam seguras, respeitadas e estimuladas a crescer. No nosso setor, isso é ainda mais urgente, porque historicamente ele reproduziu muitos padrões masculinos. Mas estamos avançando e acredito muito no poder da diversidade como força de inovação e desempenho.

SV: Como você equilibra carreira, vida pessoal e autocuidado?

JA: Confesso que essa pergunta sempre soa difícil porque, às vezes, parece que precisamos ter uma fórmula perfeita e ela não existe. O que posso dizer é que sempre tive um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal, e faço questão de manter isso. Eu acordo cedo, treino e organizo meu dia para ter energia e clareza, mas sem sacrificar minhas relações ou minha vida fora do trabalho e espero o mesmo para o time. Um ambiente saudável torna o trabalho mais leve e até mais produtivo.

SV: O que ainda precisa mudar na percepção de que cerveja “é coisa de homem”?

JA: Essa frase nunca fez sentido na realidade e, cada dia, faz menos. A cerveja é sobre cultura, sabor, encontros, conversas, não sobre gênero. O que precisa mudar é a maneira como o setor se comunica e se posiciona, mostrando mulheres em todos os papéis: liderando, produzindo, atuando na cadeia e também consumindo. Quanto mais representatividade mostramos, mais aceleramos essa mudança.

SV: Qual legado você gostaria de construir como uma líder mulher na indústria cervejeira?

JA: Eu gostaria que, quando essa jornada terminar, existissem mais mulheres ocupando posições como a minha, na Estrella Galicia e no setor como um todo. Quero mostrar, por meio de resultados e consistência, que mulheres podem liderar com excelência mesmo em mercados tradicionalmente masculinos, e que essa crença de que “talvez não dê certo” pertence a um mercado antigo, que já não cabe mais. Se meu trabalho puder abrir portas, inspirar e normalizar essas lideranças, esse será o legado que mais me orgulhará.

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