
Por Joyce Silva
21 de agosto de 2025Sustentabilidade, novos padrões globais e o impacto no varejo brasileiro
Confira o artigo exclusivo de Joyce Silva, especialista em área fiscal, para a SuperVarejo
Nos últimos anos, o preço deixou de ser o único critério de escolha na hora da compra. Especialmente entre os consumidores mais jovens, fatores como impacto ambiental, responsabilidade social e valor da marca passaram a influenciar cada vez mais as decisões. Iniciativas como logística reversa, embalagens recicláveis e reutilização de produtos ganharam espaço e se tornaram diferenciais competitivos.
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Essa tendência é comprovada por números: segundo pesquisa da ESG Insights (2024), 95% dos consumidores brasileiros preferem marcas que investem em sustentabilidade. Em nível global, o Future Consumer Index mostrou que, entre 2022 e 2023, o percentual de pessoas dispostas a pagar mais por produtos sustentáveis saltou de 24% para 32%. A Geração Z lidera esse movimento (37%), seguida pelos Millennials (35%).
IFRS S1 e S2: transparência como regraO movimento de consumo sustentável ganhou ainda mais força com a entrada em vigor dos padrões globais IFRS S1 e IFRS S2, criados pelo ISSB para trazer transparência às informações de sustentabilidade.
No Brasil, essas normas serão obrigatórias a partir de 2026 para:
- Companhias abertas Categoria A (aquelas que podem negociar ações na bolsa);
- Fundos de investimento listados;
- Securitizadoras registradas na CVM.
Ainda que, a princípio, atinjam apenas grandes empresas de capital aberto, o impacto será sistêmico. Isso porque essas companhias terão de reportar riscos climáticos, emissões e práticas ESG em toda a sua cadeia de valor. Assim, fornecedores menores (indústrias, transportadoras, prestadores de serviços e até o pequeno comércio) precisarão entregar informações confiáveis ou correm o risco de perder contratos.
O efeito cascata no varejo
O varejo, por estar na ponta da cadeia e em contato direto com consumidores, sentirá fortemente esse efeito.
- Grandes redes já começam a exigir dados ambientais e sociais de seus fornecedores e parceiros.
- Varejistas de menor porte poderão ser cobrados a comprovar práticas básicas, como gestão de resíduos, eficiência energética, emissão de notas fiscais regulares e participação em programas de logística reversa.
Quem não se preparar pode ser excluído de canais de venda importantes. Por outro lado, aqueles que se anteciparem terão ganhos em competitividade, fidelização de clientes e até em acesso a crédito.
Adaptação
Para construir informações consistentes e se alinhar às novas exigências, varejistas (grandes ou pequenos) podem começar com ações práticas:
- Mensurar emissões de carbono, desde transporte de mercadorias até energia consumida nas lojas;
- Identificar riscos climáticos que possam afetar o negócio (como crises hídricas ou alta de energia); Definir respostas e planos de mitigação para esses riscos;
- Implementar políticas de diversidade e inclusão, com governança clara e acompanhamento por comitês;
- Estabelecer metas mensuráveis, como a redução de determinado percentual de emissões ou aumento do uso de materiais recicláveis.
Além do desafio regulatório da sustentabilidade, o Brasil vive outro momento crucial: a reforma tributária. Ainda que muitos a vejam como barreira, ela pode se tornar uma oportunidade estratégica no planejamento tributário.
O novo sistema trará medidas ligadas diretamente a práticas sustentáveis:
- Incidência do Imposto Seletivo sobre produtos e processos prejudiciais ao meio ambiente ou à saúde pública, desestimulando práticas nocivas.
- Incentivos para biocombustíveis, com o objetivo de reduzir as emissões de carbono.
- Estímulo da economia circular por meio de créditos presumidos para empresas que adquirirem materiais recicláveis de pessoas físicas ou cooperativas de catadores.
- A alíquota de produtos florestais e serviços ambientais foi reduzida em 60%.
Nesse contexto, revisar portfólio de produtos, repensar embalagens e alinhar práticas ambientais à estratégia tributária pode gerar ganhos tanto no curto quanto no médio prazo.