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Varejo
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Por Redação
6 de outubro de 2025

O supermercado como hub de mobilidade urbana: conveniência, inovação e fidelização

De estações de recarga para carros elétricos a lockers de e-commerce e bicicletários, as redes começam a se posicionar como pontos estratégicos de mobilidade e conveniência para o consumidor.

A transformação do supermercado em um hub de mobilidade urbana é uma das tendências que podem redefinir a forma como o consumidor se relaciona com o varejo alimentar. A ideia vai além da compra de mantimentos: envolve a integração de serviços como recarga de veículos elétricos, lockers para retirada de compras online, bicicletários e conexões com aplicativos de mobilidade. O movimento amplia o papel da loja física e reforça sua relevância dentro do cotidiano urbano.

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Para Alberto Serrentino, consultor sênior da Varese Retail, essa mudança está diretamente ligada à jornada do cliente e ao ritmo de evolução tecnológica da mobilidade. “Olha, eu acho que como em tudo que envolve varejo, essas questões todas vão ter que passar muito por uma visão de jornada e experiência do cliente. É do cliente para dentro”, afirma.

Já para Fernando Marchesini, professor da FGV e presidente do BMNI, o impacto sobre a experiência de consumo é direto. “O supermercado deixa de ser apenas ponto de compra e vira um hub de conveniência. Com recarga, lockers e bicicletários, o cliente permanece mais tempo, compra mais e visita com maior frequência. Isso aumenta o ticket médio, fidelização e gera percepção de marca sustentável e inovadora”, diz.

A experiência do consumidor no centro

O comportamento do consumidor, segundo Serrentino, vai depender de como os modais de transporte evoluem. “Nós vamos precisar entender, primeiro, nessa questão de mobilidade urbana e os modais e a forma com a qual isso vai se desenvolver, quais serão as demandas. Então, por exemplo, nós vamos de fato para uma eletrificação de frota ou para mais carros híbridos? Essa vai ser a tecnologia dominante preponderante? Se sim, é um cenário, se não é outro”, explica.

Nesse cenário, a disponibilidade de serviços adicionais pode se tornar um critério de preferência. “Quanto maior, a mais rápida adoção e impacto na frota de carros elétricos e híbridos que demandam recarga, maior vai ser a demanda ou preferência por lugares que oferecem essa conveniência, esse serviço e que você une o útil ao agradável”, completa Serrentino.

Marchesini entende que o supermercado, ao oferecer serviços ligados à mobilidade, constrói uma experiência mais completa e alinhada às expectativas atuais. “A conveniência gera valor tangível e simbólico: a percepção de que a marca está conectada a práticas sustentáveis e modernas”, diz o professor da FGV.

Desafios de implementação

Apesar do potencial, a adoção desses serviços enfrenta barreiras relevantes e Marchesini destaca que “os maiores obstáculos são: alto investimento inicial, infraestrutura elétrica limitada, burocracia regulatória, manutenção de equipamentos e integração com apps. Além disso, a falta de modelo claro de monetização e cultura organizacional conservadora dificultam avanços rápidos”, analisa.

Serrentino lembra que a aplicabilidade varia conforme o perfil de cada loja. “Tudo isso vai depender muito do ritmo de adoção e, principalmente, do perfil de cliente de cada loja. Porque pode ser relevante para uma loja e não relevante para outras. Lojas que o cliente vai muito a pé ou que está no bairro, etc., talvez não tenham tanta demanda quanto lojas que requerem mais deslocamento ou que estão mais distantes”, afirma.

Diferenciação e competitividade

De acordo com Serrentino, um dos pontos centrais é o quanto essas iniciativas podem se tornar diferenciais competitivos e a ampliação do papel da loja é inevitável. “O que eu acredito que é um papel definitivo e que será crescente é o de hub da loja. A loja se tornando um hub logístico, a loja se tornando um hub de serviços, um hub de consumo, ela sendo uma plataforma de entrega rápida. Então, esse papel ampliado da loja física, e no caso específico do supermercado, ele é muito relevante, porque você tem os perecíveis e a comida pronta. Eu acredito que vai ser crescente”, aponta.

Marchesini reforça a visão de que infraestrutura de mobilidade pode fidelizar clientes. “Investir em mobilidade cria barreiras de troca e fideliza clientes que valorizam conveniência e sustentabilidade. O tempo de espera na recarga ou retirada gera cross-selling e aumenta o ticket médio. Porém, o impacto depende de execução consistente e escolha correta de lojas piloto”, ensina o professor.

Modelos internacionais e adaptações locais

No cenário internacional, ainda não há cases revolucionários, segundo Serrentino. “Eu não vejo nenhum. Tem casos internacionais? Tem. Mas, eu não vejo nada em escala hoje que seja uma coisa tão revolucionária. Eu vejo mais vagas dedicadas à estação de recarga, eventualmente mais espaço dedicado para bicicletas, mas tudo isso vai no ritmo da demanda que é o que puxa essas coisas”, analisa.

Marchesini cita exemplos como Carrefour, na Europa, e Walmart, nos Estados Unidos, que já utilizam recarga em larga escala e lembra que cidades como Amsterdam desenvolveram hubs multimodais. Para o Brasil, a recomendação é adaptar com parcerias estratégicas e foco em grandes centros urbanos. “Para o Brasil, adapta-se com parcerias (operadoras de energia e lockers), foco em grandes centros urbanos e pilotos estratégicos com menor CAPEX”, diz.

Marchesini também detalha que é preciso priorizar supermercados em vias arteriais, firmar parcerias com prefeituras e provedores de energia, além de explorar soluções como bikes de carga para last-mile sustentável e logística reversa. “O segredo está em validar modelos flexíveis, integrados a aplicativos e ajustados às demandas locais”, emenda o presidente do BMNI.

Supermercado como elo central de conveniência

Com o avanço do e-commerce e das compras programadas, a loja física ganha novos papéis e Serrentino destaca a multiplicidade de formatos de atendimento. “Você pode ter uma compra na loja, você pode ter uma compra programada, com uma entrega em horário marcado e que te dá a praticidade de não ter que ir até a loja e receber tudo em casa, de forma selecionada, com a garantia de que vem qualidade, bom manuseio, integridade dos produtos, pontualidade, e que há um alto nível de atendimento do que é escolhido. E você pode ter a entrega rápida, que pode ser feita via plataformas ou pode ser feita direta, que é aquela compra de entrega em janela curta, poucos itens para emergência ou consumo imediato. E, obviamente, tudo isso com uma crescente oferta de comida pronta”, destaca.

Marchesini complementa que a visão estratégica deve ser de longo prazo. “A estratégia é posicionar o supermercado como nó de logística e conveniência: lockers para e-commerce, recarga de EV, bicicletários e integração com apps. A curto prazo, pilotos; a médio, parcerias; a longo, hubs logísticos urbanos que conectam varejo, mobilidade e sustentabilidade”, finaliza.

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