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Por Redação
21 de novembro de 2025

Embalagens inteligentes impulsionam eficiência e reduzem desperdício nas padarias brasileiras

Com soluções tecnológicas que prolongam a vida útil dos produtos e reforçam práticas sustentáveis, especialistas apontam embalagens como aliadas estratégicas para reduzir perdas e agregar valor à experiência do consumidor

A evolução das embalagens inteligentes tem transformado a dinâmica da panificação no Brasil, impulsionando ganhos de eficiência e contribuindo de forma direta para a redução do desperdício. Se antes a embalagem era vista apenas como um meio de conservação, hoje ela assume papel estratégico ao integrar tecnologia, sustentabilidade e rastreabilidade. Essa mudança vem ocorrendo em um setor que movimenta milhões de toneladas de produtos diariamente e que, pela própria natureza de seus itens — altamente perecíveis —, enfrenta desafios constantes na preservação da qualidade e na otimização da cadeia produtiva.

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Segundo Paulo Menegueli, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), o avanço no uso de embalagens inteligentes tem sido gradativo, mas consistente. Ele explica que o movimento é impulsionado pela busca por eficiência, sustentabilidade e valorização do produto. “O setor tem incorporado tecnologias que prolongam a vida útil dos alimentos, controlam umidade, oxigênio e temperatura, reduzindo o desperdício em toda a cadeia”, afirma. Além disso, Menegueli destaca que a digitalização também começa a chegar às padarias, com o uso de QR Codes e etiquetas inteligentes que informam prazos, composição nutricional e boas práticas de armazenamento, recursos que ampliam a transparência e ajudam a reduzir perdas.

Em consonância com essa evolução, a sustentabilidade tornou-se um eixo fundamental e Menegueli afirma que as embalagens recicláveis e biodegradáveis, além das iniciativas de redução de gramatura e uso racional de plásticos, estão entre as mais adotadas pelas indústrias e padarias associadas. “A Abip tem incentivado a adoção de soluções alinhadas às práticas ESG, apoiando os empresários nesse processo de transição. Há cartilhas educativas em nosso site disponíveis para download, bem como iniciamos o projeto de capacitação técnica Abip Pelo Brasil com um eixo exclusivo para ESG – visando a conscientização dos empresários”, explica o executivo.

Apesar dos avanços, o presidente da Abip reconhece que ainda há desafios para a implementação dessas soluções em larga escala, principalmente entre pequenos e médios negócios. “O principal desafio é o custo de implementação e a disponibilidade tecnológica fora dos grandes centros. Pequenas padarias e confeitarias, que representam mais de 80% do setor, muitas vezes enfrentam barreiras logísticas e financeiras para acessar materiais inovadores. A Abip possui uma comissão de trabalho que visa impulsionar e facilitar as compras coletivas nos sindicatos e associações do país. A iniciativa permite que a inovação chegue também às micro e pequenas empresas”, observa.

Tecnologia como aliada na conservação e rastreabilidade

Para além da conservação, as embalagens inteligentes têm papel cada vez mais relevante na rastreabilidade e no controle de qualidade. Menegueli destaca que as identificações digitais permitem o monitoramento do produto desde a produção até o ponto de venda, assegurando segurança alimentar, conformidade regulatória e transparência. “Além disso, essas soluções criam identificação com uma nova geração de consumidores”, reforça.

Entre as soluções mais promissoras, Eduardo Freire, estrategista de inovação e CEO da FWK Innovation Design, cita tecnologias como a combinação de active packaging (AP) e modified atmosphere packaging (MAP), embalagens ativas combinadas com atmosfera modificada, que utilizam absorvedores de oxigênio e emissores de etanol para frear bolores e leveduras. Segundo o especialista, essa técnica contribui para manter a textura e a qualidade dos pães e buns por períodos significativamente mais longos. “A extensão de vida útil pode chegar a mais de 16 dias com absorvedores de oxigênio e até 24 dias com emissores de etanol, dependendo da formulação e das condições de armazenamento”, explica.

Outro avanço relevante mencionado por Freire são os indicadores inteligentes, como os TTI (time-temperature indicators) e sensores de oxigênio e gás aplicados às etiquetas. Esses recursos monitoram eventuais quebras da cadeia fria ou falhas no vácuo, permitindo que a equipe de loja aja rapidamente em casos de deterioração. “Esses indicadores dão um sinal acionável para reposição e markdown, reduzindo o risco de perda e otimizando o giro de estoque”, detalha.

Design, marca e retorno financeiro

A inovação nas embalagens também tem impacto direto na percepção do consumidor e, de acordo com Freire, a decisão de compra está cada vez mais ligada à sustentabilidade e à clareza das informações. “Pesquisas globais indicam que reciclabilidade e atributos ‘eco’ pesam na escolha e produtos com claims de sustentabilidade cresceram mais que os demais nos últimos anos. Esses elementos reforçam o valor da marca sem abrir mão da função técnica”, afirma.

Ao abordar a questão do custo, Freire ressalta que o retorno sobre o investimento em embalagens inteligentes deve ser avaliado sob a ótica da redução de perdas. “Atacar o desperdício derruba o custo total de propriedade antes mesmo de trocar todo o portfólio de materiais”, explica. Segundo o estrategista em inovação, há dois multiplicadores comprovados: a previsão de demanda com uso de inteligência artificial, que reduz sobras e melhora a acurácia dos pedidos, e o preço dinâmico por validade, que reduz o desperdício em até 21% e ainda eleva a margem de lucro em cerca de 3%. “A adoção de materiais verdes por si só pode desacelerar por pressão de custo; por isso, o ideal é realizar testes A/B onde a redução de perda compense a troca de material”, pontua.

Segundo Freire, o futuro da panificação passa pela integração entre visão computacional, IA e prateleiras inteligentes. “Na produção, sistemas de imagem ajudam a padronizar o ponto de assamento e a reduzir lotes fora de especificação. No ponto de venda, as etiquetas digitais e o markdown automatizado têm impacto direto na redução de resíduos”, explica.

O futuro da panificação é digital e sustentável

Para Menegueli, da Abip, o caminho do setor é claro: unir inovação e responsabilidade ambiental. “O futuro das embalagens deve ser guiado por eixos como sustentabilidade, com materiais recicláveis e reutilizáveis, digitalização e rastreabilidade, padronização e processos computadorizados de embalagem”, afirma. O executivo reforça que a conscientização do consumidor é um fator decisivo nessa transformação. “O consumidor brasileiro está cada vez mais atento a práticas sustentáveis e as padarias, que são um símbolo do cotidiano nacional, têm um papel estratégico nessa transformação”, conclui.

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