
Por Redação
4 de junho de 2025Rio Grande do Sul: como os supermercados estão se recuperando após as enchentes!
Mesmo com setor aquecido, desafios do cenário econômico atual se destacam e exigem inovação e estratégia
Os eventos climáticos extremos registrados em 2024 resultaram em grandes impactos socioeconômicos no Rio Grande do Sul. Um ano depois das enchentes que comoveram todo o Brasil, o estado ainda lida com grandes desafios para a superação dos impactos – muitos deles sentidos pelo varejo alimentar.
Um relatório divulgado no último mês de abril pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG) apresentou uma análise sobre os efeitos. Segundo o estudo, apesar dos contratempos o comércio teve uma forte recuperação nos meses seguintes, cenário alavancado pelas políticas de transferência de renda e pela necessidade da população de repor bens danificados. Em 2024 o comércio fechou com crescimento de 9,5%, e os hipermercados e supermercados cresceram 11,4% na região.
Danos e resiliência
De acordo com a AGAS (Associação Gaúcha de Supermercados), pelo menos 264 lojas de um total de cerca de 6,8 mil foram diretamente impactadas pelas enchentes, com muitas sofrendo perdas totais em equipamentos e estoques. Além disso, a logística foi severamente comprometida devido a estradas danificadas e infraestrutura prejudicada.
Na época, como medida emergencial, a AGAS implementou a campanha "Ajuda Sul", que mapeou 661 empresas afetadas e promoveu ações como a distribuição de cestas básicas, kits de limpeza e cobertores. Além disso, foram distribuídos R$ 1,5 milhão em vale-compras para apoiar consumidores e comerciantes.
Um ano após as enchentes que atingiram a região em 2024, o setor supermercadista segue em reconstrução, agora com novos desafios. “Se no auge da crise o foco esteve na retomada das operações e no apoio humanitário, com lojas atuando como pontos de arrecadação e distribuição de doações, hoje o cenário exige uma readequação comercial”, diz Jairo Antonio da Silva, diretor comercial do Grupo Asun, rede tradicional da região com 40 lojas.
Silva lembra que muitas lojas registraram picos de vendas durante o período de calamidade, impulsionadas pela mobilização solidária da população. Agora, o desafio é superar esses números em um contexto de normalização, mantendo a competitividade e relevância diante de uma base comparativa atípica. “O setor continua se reinventando, fortalecendo vínculos com a comunidade e apostando em inovação, eficiência e proximidade com o consumidor para sustentar o crescimento. que são marcas do setor no estado”, afirma.
Já Fabiano Pivotto, CEO do Grupo Imec (Imec Supermercados e Desco Atacado), pontua que após as enchentes de 2024 o setor do varejo alimentar do RS teve de se reorganizar rapidamente para atender o cliente durante e pós-catástrofe. “E precisou se manter resiliente, com a reconstrução de lojas tomadas pela água, como foi o caso do grupo Imec, que teve lojas atingidas, gerando prejuízos elevados, e que precisaram de rápido e elevado investimento para voltarem a operar. Passado um ano do evento catastrófico, já estamos recuperados. Embora algumas ‘cicatrizes’ ainda persistam no mercado local, os fatores que mais nos desafiam hoje são outros”, conta.
Ele cita como exemplo o cenário econômico e a alta inflação dos alimentos, fatores que, somados ao endividamento das pessoas, têm causado mudanças nos hábitos de consumo (trade down & trade off) que exigem uma “ginástica” do varejo para se manter competitivo e ao mesmo tempo rentável.
Com a retração de consumo de alguns itens/categorias, as margens ficam pressionadas, enquanto os custos crescem de forma oposta, causando uma equação complexa para fechar a margem final das empresas. “Além disso, especificamente no Rio Grande do Sul estamos passando por uma forte expansão de atacarejos de diversas empresas, e até que isso atinja sua maturidade e se estabilize, estamos vivendo uma frequente alteração do faturamento dos pontos de vendas, desafiando cada rede a criar estratégias de atração dos clientes, numa disputa acirrada”, descreve o executivo.
Recuperação e perspectivas
Depois dos momentos mais críticos, o segmento do varejo alimentar no Rio Grande Sul dá sinais de retomada. A Expoagas 2024, realizada em agosto do ano passado, registrou um crescimento de 8% nas negociações, indicando uma retomada das atividades comerciais.
Além disso, dados da Scanntech apontam que, nas três semanas seguintes às enchentes, as vendas no setor supermercadista cresceram 14% em comparação ao mesmo período de 2023, superando a média nacional.
Algumas redes, atualmente, estão se movimentando e em franco crescimento. O Grupo Zaffari, por exemplo, deve lançar este ano em Porto Alegre um complexo multiuso formado pelo Bourbon Shopping Carlos Gomes e as torres comerciais Z Tower, do Grupo Zaffari, e UMA Corporate, da UMA Incorporadora. Já o Grupo Asun está investindo R$ 35 milhões na construção de uma nova unidade em Osório (RS), que deve ser a maior da rede. As obras devem acabar em novembro de 2025.