
Por Redação
25 de abril de 2025Como os rótulos minimalistas estão transformando a relação entre marcas e consumidores
Designs limpos, informações precisas e estética sofisticada fazem rótulos minimalistas ganharem força nas prateleiras como aliados do consumo ético e transparente
Em um cenário de prateleiras saturadas por cores vibrantes, tipografias chamativas e promessas escancaradas, uma nova estética vem se destacando silenciosa, elegante e assertivamente nos pontos de venda: o rótulo minimalista. Com seu visual limpo e objetivo, conquistou não apenas o olhar, mas também a confiança de um consumidor cada vez mais exigente e atento ao impacto de suas escolhas. A tendência, que começou como uma estratégia de diferenciação, hoje se consolida como um instrumento de comunicação ética e consumo consciente.
Luciano Tardin, coordenador do curso de Design da ESPM, explica que a adoção de uma linguagem mais minimalista, de forma geral, está muito associada à ideia de sofisticação e cuidado com o detalhe. “Em uma cultura marcada por excessos, uma embalagem que se apresenta de maneira simplificada tende a ganhar força por traduzir um certo rigor estético e até moral”, avalia.
Segundo Tardin, essa transformação vai além da estética já que os rótulos minimalistas têm o poder de alterar a percepção dos consumidores, principalmente em relação a produtos sustentáveis. “É como se buscássemos uma ‘estética da ética’. A simplicidade visual ajuda a enfatizar valores como reciclagem, reutilização e redução de impactos, elementos que fazem parte de um ciclo de consumo mais responsável”, afirma o coordenador.
Sofisticação silenciosa e transparência como valor
Segundo Laila Rotter, gerente de design da Tátil Design, a estética minimalista passou a simbolizar um tipo de luxo contemporâneo, menos sobre ostentação e mais sobre propósito. “Na virada dos anos 2000, marcas como Apple e Aesop romperam códigos tradicionais ao apostarem em embalagens quase silenciosas. A Apple, por exemplo, trouxe um luxo clean às embalagens tecnológicas, enquanto a Aesop buscou inspiração na indústria farmacêutica para sugerir fórmulas sofisticadas e cuidadosas”, diz.
Esse tipo de abordagem rapidamente encontrou ressonância em consumidores mais atentos ao que consomem, tanto no que diz respeito à qualidade quanto à origem dos produtos. “Quando um rótulo renuncia ao excesso gráfico e mostra apenas o essencial, ele pode passar a sensação de uma produção mais natural, com menos aditivos. Isso reforça a transparência, algo que se tornou fundamental no relacionamento entre marcas e consumidores”, observa Laila.
Risco de Greenwashing e importância da informação
Com o crescimento da consciência ambiental e social por parte do público, o risco de o minimalismo virar uma estratégia de greenwashing não é desprezível e Luciano Tardin faz um alerta claro: “O consumo responsável passa, essencialmente, pelo acesso à informação. Não adianta parecer sustentável, é preciso demonstrar isso com dados, como a origem dos ingredientes, os processos de fabricação e as certificações envolvidas”, ensina o coordenador da ESPM.
De acordo com Luciano, embalagens mais limpas e enxutas podem, sim, correr o risco de omitir detalhes importantes. “É necessário entender que os elementos gráficos devem servir para evidenciar as qualidades reais do produto e isso depende de escolhas muito precisas: tipografia, cores, hierarquia da informação. Um rótulo minimalista bem resolvido comunica com potência, mas também carrega a responsabilidade de não esconder o que realmente importa”, observa Tardin.
Segundo Laila, há um contrapeso importante nesse cenário, que é a vigilância dos próprios consumidores. “Hoje é difícil sustentar um discurso só pela embalagem. O consumidor está mais crítico e verifica se o que é prometido ali realmente se materializa em outros pontos de contato com a marca”, ressalta a executiva.
Design com propósito e tecnologia como aliada
A união entre design minimalista e tecnologia surge como um caminho promissor para superar os desafios de informação e garantir que a transparência não seja sacrificada em nome da estética. “O uso de QR codes é um exemplo simples e eficiente. Eles permitem que o rótulo funcione como uma porta de entrada para um universo informativo completo, sem comprometer o visual da embalagem”, destaca Laila.
No entanto, o coordenador da ESPM aponta para a existência de entraves importantes para marcas que vislumbram uma embalagem minimalista. “A legislação atual impõe uma série de exigências que tornam difícil reduzir a quantidade de informações obrigatórias nas embalagens físicas. Talvez seja necessária uma regulamentação mais moderna, que permita formas mais inovadoras de apresentar esses dados”, sugere Luciano.
Além disso, Tardin destaca que há iniciativas mais radicais em curso, como a comercialização de produtos sem rótulo, vendidos a granel ou com embalagens reutilizáveis. “O minimalismo extremo pode levar à inexistência do rótulo, transferindo a responsabilidade da informação para o ponto de venda ou canais digitais. Mas isso exige uma mudança cultural significativa e, principalmente, uma revisão das normas que regem o setor”, completa Luciano Tardin.