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Sustentabilidade
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Por Redação
3 de junho de 2025

Como ESG, economia circular e desperdício zero estão moldando o setor varejista

Redes apostam em incorporação de práticas que estão revolucionando o varejo brasileiro, promovendo sustentabilidade, inovação e maior conexão com consumidores conscientes

As práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), economia circular e estratégias de desperdício zero têm assumido papel central na transformação das operações e na construção de valor para consumidores e investidores. Diante desta realidade, líderes do setor e especialistas destacam como essas iniciativas estão redefinindo processos, engajando fornecedores e fortalecendo o relacionamento com consumidores, ao mesmo tempo em que promovem impactos ambientais e sociais positivos.

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Bernardo Ouro Preto, CEO do Grupo St Marche, explica que a empresa tem avançado significativamente ao incorporar rastreabilidade de produtos e logística reversa como parte da estratégia ESG. “Por meio da rastreabilidade, asseguramos maior controle sobre a origem e o percurso dos alimentos, o que contribui para uma cadeia mais sustentável. Já a logística reversa, em parceria com fornecedores e startups como a Aravita, permitiu reduzir 20% da quebra de frutas, legumes e verduras em 29 unidades, entre agosto e outubro de 2024, comparado ao mesmo período de 2023, além de diminuir rupturas no abastecimento em 30%”, detalha Bernardo.

Além disso, a iniciativa Food To Save, que oferece descontos de até 70% em produtos próximos da validade ou fora do padrão estético, ajudou o St Marche a evitar o descarte de 23 toneladas de alimentos em seis meses, reduzindo a emissão de mais de 59 toneladas de CO² em 2024. “Trabalhamos também com a ONG Banco de Alimentos, doando alimentos antes do vencimento para mais de 57 instituições que atendem pessoas em vulnerabilidade social,” acrescenta.

Iniciativas conectadas ao propósito do St Marche

Segundo Bernardo, o conceito de economia circular está sendo operacionalizado por meio da coleta seletiva de resíduos como papelão, plástico e óleo de cozinha, além da reintegração de produtos fora do prazo por meio de parcerias estratégicas. “Nossa expectativa para 2025 é evitar o desperdício de 70 toneladas de alimentos só com o programa Food to Save,” ressalta o CEO do Grupo St Marche.

O executivo destaca os aspectos mais desafiadores que a companhia enfrentou até atingir o nível atual de práticas alinhadas ao ESG. “O alinhamento com fornecedores de diferentes níveis operacionais e a adaptação dos processos internos exigiram investimento em capacitação, comunicação transparente, tecnologia e parcerias de longo prazo. Essas iniciativas são parte integral da nossa estratégia ESG e conectadas ao propósito de negócio”, afirma.

Essa integração das práticas de sustentabilidade impacta diretamente a relação com os consumidores do St Marche e Bernardo cita ações que estimulam a cultura de doação entre clientes, como o Movimento Arredondar, que arrecadou mais de R$ 118 mil para ONGs desde 2022, e as Caixas Solidárias, que arrecadaram quase 119 toneladas de alimentos em cinco anos. “Essas ações reforçam nosso compromisso em impactar positivamente as comunidades ao redor de nossas lojas,” salienta.

Logística reversa e economia circular no varejo

Para o professor da FGV e sócio da Canal Vertical, Roberto Kanter, essas práticas fazem parte de um movimento mais amplo no varejo. “A rastreabilidade reforça a governança e a responsabilidade social da marca, ao garantir segurança e qualidade ao consumidor. Já a logística reversa fecha ciclos de consumo, reduzindo emissões e resíduos. O Carrefour Brasil implementa sistemas para garantir carne com rastreabilidade de origem e combate ao desmatamento, além de programas de logística reversa para resíduos de clientes”, diz.

Kanter observa que o varejo vem operando a economia circular em diferentes frentes. “Redesign de embalagens para reutilização, uso de materiais recicláveis e incentivos ao consumidor para o retorno das embalagens são ações que caminham lado a lado com programas de triagem e reaproveitamento de resíduos orgânicos e industriais. O varejo deixa de encarar esses fluxos como externalidades e passa a vê-los como parte do sistema de valor, reduzindo custos e ampliando a licença social para operar,” explica o professor da FGV.

Obstáculos estruturais e relação com o consumidor

O especialista ainda cita exemplos do GPA, com seus programas de reaproveitamento de alimentos e selo “Produto Sustentável”, e da Coca-Cola FEMSA, que promove o uso de garrafas retornáveis e coleta de embalagens pós-consumo via cooperativas. Apesar dos avanços, Kanter ressalta obstáculos estruturais e culturais. “A baixa digitalização na cadeia de fornecedores, custos logísticos, engajamento insuficiente dos consumidores e falta de padronização nos indicadores dificultam a escalabilidade dessas práticas.”, analisa o professor.

Essas transformações também remodelam a relação com o consumidor brasileiro que, segundo Kanter, está mais atento e exigente. “A transparência sobre a origem e impacto ambiental dos produtos, a oferta de informações claras e a entrega de propósito real são fatores que elevam a fidelização e transformam clientes em defensores da marca”, avalia o sócio da Canal Vertical.

Carrefour reforça compromisso

Um dos grandes exemplos desse movimento é o Grupo Carrefour Brasil, que possui programas robustos de logística reversa, incluindo pontos de coleta para diversos resíduos nas lojas e assistência técnica para produtos devolvidos, prolongando a vida útil dos itens e reduzindo o descarte. O grupo também investe em compromissos ambientais na cadeia de valor, buscando reduzir as emissões de carbono e ampliar a venda de produtos mais sustentáveis.

Recentemente, o Carrefour formalizou parceria com o Governo do Pará, JBS e frigoríficos locais para implementar a rastreabilidade individual do rebanho bovino paraense, combatendo o desmatamento ilegal e promovendo a pecuária sustentável na região. No conjunto, as práticas de ESG, economia circular e desperdício zero não apenas elevam a sustentabilidade do setor varejista, mas também criam uma vantagem competitiva decisiva, fortalecendo marcas, engajando consumidores conscientes e promovendo impactos sociais e ambientais positivos.

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