
Por Redação
17 de junho de 2025Rotatividade como oportunidade: varejo aposta no recrutamento contínuo com impacto social
Setor supermercadista transforma o desafio da alta rotatividade em estratégia de inclusão. Rede Supernosso, Fundação CASA e Instituto Recomeçar revelam como o recrutamento contínuo pode gerar impacto comunitário e quebrar ciclos de exclusão social.
No setor varejista a rotatividade de funcionários sempre foi um desafio estrutural e para muitas empresas esse cenário é um obstáculo. Porém, algumas redes estão ressignificando o turnover como um motor de transformação social como, por exemplo, o Supernosso, rede varejista de Minas Gerais. Aliados às iniciativas do setor privado estão a Fundação CASA e o Instituto Recomeçar, mostrando como o recrutamento contínuo pode ser estratégico para a inclusão e a cidadania integrando públicos historicamente excluídos do mercado de trabalho.
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De acordo com Flávia de Oliveira, gerente de Atração e Seleção do Grupo Supernosso, a rotatividade é uma oportunidade estratégica para promover inclusão e gerar impacto social positivo. A empresa mineira tem se destacado nacionalmente por integrar práticas de RH com projetos sociais voltados para a diversidade, a equidade e a empregabilidade de pessoas em situação de vulnerabilidade. “Nossas equipes são compostas por pessoas de diferentes origens, idades, raças, gêneros, religiões, orientações sexuais, níveis de escolaridade e experiências de vida”, reforça Flávia.
Reflexo direto na operação e aprendizados
Na prática, o Supernosso estrutura suas ações em pilares como integração de pessoas em vulnerabilidade social, promoção da diversidade, engajamento comunitário com ONGs e fortalecimento do clima organizacional com equipes multigeracionais. A gerente da rede explica que essa abordagem tem refletido diretamente no desempenho da operação mostrando indicadores como aproveitamento no período de experiência, taxa de turnover e absenteísmo, que são acompanhados de perto. “Também medimos o percentual de promoções internas para avaliar o impacto dessas ações no crescimento dos nossos colaboradores”, complementa Flávia de Oliveira.
Entre os projetos promovidos pela rede varejista, a executiva do Supernosso destaca programas de aprendizagem profissional, capacitações técnicas internas, inclusão de pessoas com deficiência, reinserção de profissionais com mais de 50 anos, o projeto de Saúde Mental e o programa “Descubra”. “A integração com o dia a dia das lojas é feita com planejamento e humanização. Oferecemos acolhimento no treinamento de boas-vindas, capacitação técnica específica para a função e o projeto ‘Tamo Junto’, que garante o suporte direto no local de trabalho”, diz Flávia.
Para a gerente de atração e seleção do Grupo Supernosso, os principais aprendizados estão em investir no desenvolvimento contínuo dos colaboradores, cultivar uma cultura organizacional inclusiva, oferecer trajetórias de carreira tanto verticais quanto horizontais, e manter canais abertos de feedback.
Trabalho como ponto de virada na vida
Se em Minas Gerais o varejo serve como porta de entrada para a cidadania, em São Paulo a Fundação CASA também demonstra como o trabalho pode ser o ponto de virada na vida de adolescentes e jovens que cumpriram medidas socioeducativas. “O trabalho é uma necessidade constante para esses jovens, pois representa a retomada da vida com dignidade”, diz Alessandra Leite, gerente de pós-medida da Fundação Casa. Segundo Alessandra, o programa “Depois do Amanhã”, conduzido pela instituição, realiza o acompanhamento de egressos por seis meses após o desligamento legal. Entre fevereiro e maio de 2025, mais de mil jovens aderiram ao programa.
A executiva explica que os adolescentes são encaminhados para programas de empregabilidade locais, como PATs, portais municipais e iniciativas de jovem aprendiz. Ao longo da medida socioeducativa, eles também frequentam organizações sociais em áreas como serviços, informática e logística. “Esses cursos funcionam como um primeiro contato com o mundo profissional e incentivam a continuidade da qualificação”, afirma.
Ainda que muitos desses jovens não tenham antecedentes criminais registrados, o estigma é um entrave para o retorno ao mercado formal. “É preciso que os empregadores acreditem na qualificação que eles receberam e deem oportunidades reais”, defende Alessandra.
Impacto do trabalho na reinserção de egressos
A parceria entre empresas e instituições de reinserção também é pauta central no Instituto Recomeçar, que atua na ressocialização de egressos do sistema prisional. Joel Novaes, assessor de comunicação da entidade, ressalta o impacto direto do trabalho na não reincidência. “De cada 10 pessoas atendidas, 9 não reincidem. Mesmo que nem todas sejam colocadas imediatamente no mercado, elas passam a buscar formas dignas de geração de renda após o processo de capacitação e aulas de cidadania”, relata.
Segundo Novaes, muitas empresas ainda não enxergam a inserção de egressos como responsabilidade social, mas apenas como uma forma de preencher vagas. “A maioria das oportunidades está em áreas como limpeza e serviços gerais, o que representa uma porta de entrada, mas também limitações para quem já teve profissões mais estruturadas antes da prisão”, explica. Ainda assim, Joel vê avanços: “Há 10 anos, esse debate era muito menor. Hoje já existe uma movimentação positiva na sociedade”, acredita.
Entre os desafios, Joel destaca a adaptação do egresso ao ambiente corporativo e a necessidade de preparo dos empregadores. “É uma questão de entendimento mútuo. O empregador precisa apenas cobrar o que é esperado no período de trabalho, e o egresso precisa entender que haverá regras e responsabilidades”, afirma. Ainda segundo o assessor do Instituto Recomeçar, o setor varejista pode contribuir muito mais se treinar seus departamentos de RH. “Tudo começa pelo RH, que precisa desenvolver sensibilidade e saber transmitir ao gestor a importância de oferecer uma nova chance a quem está buscando recomeçar”, completa.