Por Redação
24 de outubro de 202599Food reacende disputa por delivery e desafia supermercados a repensarem o canal digital
Retorno ao serviço de entrega de comida no país reforça a corrida pela conveniência e redefine o relacionamento entre consumidores, plataformas e varejo alimentar
A reentrada da 99Food no segmento de entregas no Brasil, após uma pausa em 2023, marca mais um movimento estratégico na disputa acirrada no setor do delivery de alimentos e refeições no Brasil. A plataforma, que pertence à chinesa DiDi — a mesma controladora da 99, de transporte por aplicativo —, retorna a operação por aqui com o objetivo de ampliar sua presença no setor de entregas rápidas, aproveitando a estrutura logística e a base de usuários já consolidada no transporte urbano. A promessa é oferecer agilidade e preços competitivos, mirando desde restaurantes até lojas de conveniência e supermercados.
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O cenário é de competição intensa: Rappi, iFood e Zé Delivery já disputam espaço em um mercado em franca expansão, impulsionado pela mudança de hábitos de consumo e pela digitalização do varejo alimentar. Para os supermercados, especialistas apontam que o movimento da 99Food representa tanto uma oportunidade quanto um alerta. O player esbanja fôlego financeiro e tecnologia robusta, o que pode redefinir a dinâmica das parcerias e das margens operacionais do canal online. “Esse é um jogo de escala e eficiência. A entrada da 99Food pode pressionar o mercado e acelerar o processo de profissionalização digital dos supermercados”, afirma Leandro Guissoni, cofundador da consultoria Decoupling.co e diretor acadêmico da FGV. Segundo ele, a competição não se limita mais à entrega em si, mas à integração entre experiência do cliente, dados e fidelização. “O consumidor busca por conveniência e personalização. Supermercados que ainda tratam o e-commerce como um canal complementar correm o risco de perder relevância”, avisa.
A força logística e a capacidade de investimento da DiDi colocam a 99Food em posição diferenciada para oferecer soluções B2B e de última milha. Essa característica pode beneficiar redes que ainda enfrentam desafios para estruturar operações próprias de delivery. “Parcerias estratégicas podem reduzir custos e ampliar o alcance geográfico dos supermercados, especialmente dos de médio porte”, explica Guissoni. O especialista diz que é fundamental avaliar o controle sobre a jornada do cliente e os dados de consumo — ativos valiosos que, muitas vezes, ficam com as plataformas.
Pressão por melhorias
Para Felipe Wasserman, docente de marketing e varejo da ESPM, a entrada de uma marca como a 99Food traz inovação e força de marketing. "Isso impacta diretamente a percepção do consumidor e pressiona os demais varejistas a aprimorarem seus serviços digitais”, observa.
O movimento também reforça a necessidade de integração entre canais físicos e digitais. Nelson Beltrame, professor da FIA Business School, ressalta que o desafio dos supermercados é conciliar a eficiência operacional com a experiência de compra. “O consumidor quer velocidade, mas também confiança. Isso exige processos integrados, estoques bem geridos e comunicação em tempo real com o cliente”, afirma.
Já Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail e especialista em varejo omnichannel, destaca que a chegada da 99Food deve acelerar o amadurecimento do ecossistema de entregas rápidas. “A presença de uma grande plataforma internacional amplia a competição e força o varejo alimentar a investir mais em tecnologia, logística e inteligência de dados”, pontua.
A disputa pelo consumidor que busca por conveniência tende a se intensificar. Enquanto as grandes redes se movem para consolidar seus próprios aplicativos, os supermercados regionais e de bairro veem nas plataformas externas uma forma de sobreviver digitalmente.
Para Guissoni, o equilíbrio entre custo, visibilidade e controle de dados será determinante. “A grande questão é estratégica: o quanto o supermercado quer ser dono da sua relação com o cliente”, comenta.
Com a 99Food apostando em escala e integração tecnológica, o varejo alimentar brasileiro entra em uma nova fase de competição digital, e os supermercados que enxergarem o delivery não apenas como um serviço, mas como parte central do relacionamento com o consumidor, terão mais chances de se fortalecer nesse cenário em transformação.
