
Por Redação
26 de agosto de 2025Chief AI Officer: quem vai comandar a inteligência artificial no varejo?
Nova função estratégica desponta no varejo: Chief AI Officer chega para integrar dados, tecnologia e visão de negócios, revolucionando experiência do cliente, logística, preços e prevenção de perdas
A ascensão do cargo de Chief AI Officer (CAIO) já desponta como tendência estratégica no Brasil, e o setor varejista, com seu enorme volume de dados e operações complexas, é um dos ambientes mais férteis para essa função. Embora a presença desse líder ainda esteja em estágio embrionário para a maioria das empresas, grandes corporações com maturidade digital já começam a investir na posição. Pequenas e médias empresas, por sua vez, reconhecem o potencial da inteligência artificial, mas enfrentam desafios de orçamento, estrutura de dados e equipe, o que ainda impede a criação formal do cargo.
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Para Mariana Horno, diretora de recrutamento executivo da Robert Half, o perfil ideal do CAIO combina alta competência técnica em IA e machine learning com habilidades estratégicas e de liderança, sendo capaz de traduzir conceitos complexos em soluções de negócio e conectar times de tecnologia e áreas operacionais. Essa liderança pode transformar resultados em áreas-chave como experiência do consumidor, logística, precificação e prevenção de perdas, trazendo desde a hiper personalização de ofertas até a otimização de estoques e a detecção de fraudes em tempo real.
Longe de concorrer com cargos já consolidados como CIO, CDO ou CTO, o CAIO atua de forma complementar, integrando tecnologia, dados e estratégia para extrair o máximo valor da IA. O desafio para o varejo, segundo Mariana, está em encontrar profissionais que unam profundo conhecimento técnico à visão de negócios e habilidades interpessoais, um perfil ainda raro no mercado e cada vez mais disputado. Na entrevista a seguir, a executiva detalha o papel, as competências, o impacto e as perspectivas para essa nova liderança que promete redefinir o futuro do varejo.
SuperVarejo: Como a Robert Half enxerga a ascensão do cargo de Chief AI Officer no Brasil, especialmente no setor varejista? Esse movimento já é uma realidade nas empresas ou ainda está em fase embrionária?
Mariana Horno: Vemos a ascensão do Chief AI Officer (CAIO) como um movimento estratégico e inevitável no Brasil, embora ainda esteja em fase embrionária para a maioria das empresas, especialmente no setor varejista, que por sua natureza dinâmica e competitiva, com vastos volumes de dados de consumo e operações, tem um potencial gigantesco para ser impactado e otimizado pela IA. No entanto, a criação e a plena integração de um cargo de CAIO são mais proeminentes em grandes organizações que já possuem maturidade digital e investimentos em tecnologia.
Pequenas e médias empresas (PMEs), embora reconheçam o valor da IA, tendem a dispor de orçamentos mais limitados, equipes menores dedicadas a tarefas repetitivas de grande volume e uma estrutura de dados menos formalizada, o que dificulta uma implementação complexa de IA e, consequentemente, a criação de um cargo tão especializado como o CAIO. Para elas, a função de liderança da IA pode ainda estar distribuída entre outros executivos de tecnologia ou áreas de negócio.
SV: Quais competências técnicas e comportamentais são essenciais para um profissional assumir a liderança da estratégia de inteligência artificial em uma empresa do varejo? Existe um perfil ideal?
MH: Para a liderança da estratégia de inteligência artificial no varejo, o perfil ideal de um CAIO é uma combinação rara e estratégica de competências técnicas aprofundadas e habilidades comportamentais robustas. Entre as competências técnicas destacam-se o profundo conhecimento em IA e Machine Learning, o que confere uma compreensão das diferentes aplicações, modelos e ferramentas de IA, com capacidade de traduzir conceitos complexos em soluções de negócio; visão de dados e analytics, para garantir expertise em governança de dados, integração e limpeza de bases de dados, desafios comuns em grandes empresas, com seus silos de dados; familiaridade com a modernização de sistemas legados para integrar soluções de IA de forma eficaz; e conhecimento do negócio, com ampla compreensão das particularidades do setor, dos clientes à cadeia de suprimentos, passando pela dinâmica de preços e das operações.
No tocante às competências comportamentais essenciais, essa posição requer pensamento crítico e estratégico, para identificar oportunidades reais para a IA, priorizar iniciativas e alinhar a estratégia de IA aos objetivos de negócio do varejo; habilidades de colaboração e comunicação, para atuar como ponte entre equipes técnicas e áreas de negócio, traduzindo as capacidades da IA para diferentes stakeholders e liderando a transformação cultural; adaptabilidade e resiliência, já que este é um campo em constante evolução, exigindo um líder capaz de acompanhar as novas tecnologias e desafios; e visão de impacto humano, uma vez que a IA complementa as habilidades humanas a partir da otimização de funções e liberação dos colaboradores para tarefas de maior valor. Claro que não há um manual de como identificar o CAIO ideal, mas é importante ter em mente qur este é um perfil que combina o saber técnico com o saber fazer estratégico e relacional.
SV: De que forma o Chief AI Officer pode impactar diretamente os resultados de negócios no varejo, considerando áreas como experiência do consumidor, logística, pricing e prevenção de perdas?
MH: O impacto pode se dar de forma transformadora, com este profissional atuando como um catalisador de eficiência, inovação e rentabilidade. Na experiência do consumidor, contribui com a hiperpersonalização, com a IA realizando análises de dados de compra, navegação e comportamento para oferecer recomendações, otimizar jornadas de compra online e offline, aprimorar o atendimento ao cliente via chatbots e assistentes virtuais, e prever tendências de consumo, elevando a satisfação e a fidelidade. Na logística e na cadeia de suprimentos, atua na otimização de rotas, previsão de demanda com maior acuracidade, gestão inteligente de estoques, automação de armazéns e centros de distribuição, o que resulta em redução de custos operacionais, agilidade na entrega e melhor gestão de inventário.
Na formação de preços, os modelos preditivos de IA podem analisar, em tempo real, os dados de mercado, concorrência, elasticidade da demanda e comportamento do consumidor para definir preços dinâmicos e otimizados, maximizando margens de lucro e competitividade. E também na prevenção de perdas, através da análise de padrões para identificar fraudes, desvios, furtos e ineficiências operacionais em tempo real. A IA pode monitorar transações, comportamentos de funcionários e padrões de estoque, sinalizando anomalias e contribuindo para a redução de perdas financeiras. Em todas essas áreas, a IA, sob a liderança do CAIO, automatiza tarefas rotineiras, aumenta a produtividade e permite que as equipes humanas se concentrem em decisões mais estratégicas e na inovação, gerando valor tangível.
SV: O cargo de Chief AI Officer tende a concorrer ou a complementar funções já estabelecidas, como CIO, CDO ou CTO? Como as empresas estão redefinindo suas estruturas para integrar essa nova liderança?
MH: A tendência é de complementação - e não de concorrência - a outras funções já estabelecidas. Ocorre que a IA, em sua essência, complementa as habilidades humanas e as infra estruturas tecnológicas existentes, impulsionando o papel do CAIO como um orquestrador que garante que a IA seja uma ferramenta estratégica e não apenas uma tecnologia isolada, trabalhando em parceria com as lideranças de TI e dados para extrair o máximo valor. A integração dessa nova liderança exige uma redefinição estratégica de estruturas, que geralmente acontece sob três pilares:
Colaboração sinergética: Atuação em profunda colaboração com o CIO (responsável pela infraestrutura e sistemas de TI), o CDO (responsável pela governança e estratégia de dados) e o CTO (responsável pela arquitetura tecnológica e inovação), focando na estratégia, implementação e governança da IA especificamente, enquanto os outros garantem a base tecnológica, a qualidade dos dados e a execução.
Quebra de silos e integração: Desempenho de um papel fundamental na quebra de silos de dados e na promoção da integração interdepartamental. Grandes organizações, em particular, lutam frequentemente com dados isolados, o que impede a entrega de valor por sistemas de IA. Assim, o CAIO pode liderar iniciativas de limpeza e integração de dados, trabalhando em conjunto com o CDO e o CIO.
Híbrido e evolutivo: Há empresas, que optam pela adoção da posição como um braço de um CIO ou CDO, para depois se consolidá-la como uma posição autônoma no C-level, à medida que a maturidade em IA da organização cresce. Isso reflete a evolução contínua do mercado e a necessidade de flexibilidade na estrutura organizacional.
SV: A Robert Half já observa uma demanda crescente por executivos com expertise em IA para cargos estratégicos no varejo? Quais os principais desafios enfrentados pelas empresas na hora de recrutar esse tipo de liderança?
MH: Sim, percebemos uma demanda crescente por executivos com expertise em IA para cargos estratégicos. Há um reconhecimento claro de que esses profissionais são essenciais para liderar a transformação digital e competitiva que a IA oferece, mas um desafio significativo para o recrutamento dessa liderança em razão da escassez de talentos qualificados que combinem profunda expertise técnica em IA com visão de negócios e habilidades de liderança. O mercado está pagando prêmios por profissionais com alfabetização e experiência em ferramentas de IA, ao mesmo tempo em que observamos uma concorrência acirrada por empresas na busca de profissionais com essa expertise.
Além disso, muitas empresas ainda estão em processo de definir claramente o escopo e as responsabilidades de um CAIO ou de outras posições de liderança em IA, o que dificulta a busca pelo perfil ideal. Vale reforçar que encontrar um líder de IA que não apenas tenha as habilidades técnicas, mas também se alinhe à cultura da empresa e seja capaz de navegar em estruturas complexas, é um desafio adicional. Embora parte dessa lacuna possa ser preenchida por treinamento on-the-job, para cargos de liderança estratégica, as empresas priorizam e exigem produtividade imediata, o que torna a busca mais complexa por profissionais já prontos.