
Por Leandro Rosadas
4 de abril de 2025O ciclo agropecuário e o impacto no preço da carne
Confira o novo artigo exclusivo de Leandro Rosadas para a SuperVarejo
Se tem uma coisa que o supermercadista precisa entender, é que o preço da carne não sobe e desce por acaso. Existe um padrão, um ciclo claro e previsível, e quem não estuda isso, fica à mercê do mercado. Isso porque o mercado da carne bovina segue um ciclo de longo prazo, conhecido como ciclo pecuário. Esse ciclo acontece porque os pecuaristas tomam decisões com base no preço do boi gordo, e essas decisões afetam a oferta e os preços da carne nos anos seguintes.
Funciona assim: primeiramente, temos a fase de expansão, em que há a oferta em crescimento, porém com preço baixo. Quando o preço do boi gordo está alto, os pecuaristas seguram as fêmeas para aumentar a produção de bezerros. Esse movimento diminui a oferta de carne no curto prazo, mas aumenta no futuro. E com mais bois no mercado, a oferta cresce e o preço começa a cair.
Após a expansão, alcançamos a fase de contração, em que a oferta está em queda, em contrapartida, o preço eleva. Com o preço do boi gordo mais baixo, os pecuaristas começam a abater mais fêmeas para gerar receita imediata, isso reduz a produção de bezerros, diminuindo a oferta de bois nos anos seguintes. O resultado? Escassez e preços altos. Esse ciclo pode durar entre 4 e 6 anos, dependendo do mercado e dos fatores climáticos, econômicos e comerciais.
O que aconteceu nos últimos anos
Em 2022, o preço da carne caiu 9%, o que foi ótimo para o consumidor, mas um alerta para o mercado. Os pecuaristas venderam muitas fêmeas, reduzindo a capacidade de produção futura, quem achou que isso ia durar para sempre, errou feio. Isso porque estávamos no final da fase de oferta alta, e a escassez viria em breve.
Já 2023 marcou o último respiro antes da explosão, o preço da carne caiu mais 11%, seguindo a tendência do ano anterior. A oferta de bois ainda era boa, mas os pecuaristas seguiram reduzindo seus rebanhos. Foi a última chance de comprar carne barata em volume, o problema estava prestes a estourar. Não à toa, 2024 foi um ano marcado pelo grande salto do valor da carne, pegando muitos brasileiros de surpresa.
O último ano registrou um aumento de 20,84%, essa foi a maior alta desde 2019. Com menos bois disponíveis, o preço explodiu. A China também possui uma parcela de culpa, já que aumentou as compras de carne brasileira, reduzindo ainda mais a oferta no mercado interno.
O futuro dos supermercadistas
Se você continuar apostando só em carne bovina sem estratégia, vai perder clientes e margem. Quem se antecipa, protege o lucro. Pensando nisso, é fundamental diversificar as opções de proteínas nas prateleiras, se a carne bovina está cara, o cliente vai buscar alternativas. Invista em carne suína, frango e cortes alternativos para manter a venda de proteínas. Porém, é importante também educar os clientes, explicando as oscilações de preço e oferecendo substituições inteligentes.
Quem compra apenas no curto prazo, sofre mais com a volatilidade, antecipe pedidos com fornecedores e negocie melhor os preços para não ficar refém da oscilação. Outro ponto importante é evitar as promoções sem estratégias, não adianta queimar margem só para tentar competir com grandes redes. Faça promoções inteligentes e direcionadas, atraindo clientes sem comprometer o lucro.
O ciclo pecuário é previsível. O que não dá para prever é quanto dinheiro você vai perder se não se preparar. O supermercadista que entende o jogo, lucra mais. O que fica esperando o mercado decidir por ele, toma prejuízo.
Gostou do novo artigo de Leandro Rosadas? Deixe seu comentário.