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Tecnologia
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Por Redação
8 de abril de 2025

Integração entre canais online e físicos: como o omnichannel está transformando a experiência de compra

Do clique ao caixa, essas estratégias estão mudando a forma de comprar e vender em todos os ambientes do varejo

O consumidor moderno não vê mais fronteiras entre o digital e o físico. Ele começa sua jornada em um anúncio no Instagram, compara preços no site enquanto está no metrô, recebe uma promoção personalizada por e-mail e finaliza a compra no caixa rápido do supermercado - tudo em uma sequência natural e contínua. Essa fluidez, que já parece trivial para muitos, é fruto de uma transformação profunda no varejo: a estratégia omnichannel, que integra todos os pontos de contato entre marcas e consumidores em uma experiência coesa e sem atritos.

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Para Leandro Rampazzo, fundador e CEO da Godiva Propaganda, o omnichannel não é sobre ter presença em múltiplos canais, mas sobre criar uma jornada única onde o consumidor transita naturalmente entre eles. “O consumidor atual não pensa em ‘comprar online’ ou ‘comprar na loja’ como ações separadas. Há uma expectativa de continuidade. Ele pode começar uma pesquisa no smartphone durante o almoço e finalizar a compra no balcão da loja à noite, esperando que toda sua interação anterior seja reconhecida", diz.

Ângelo Vieira Jr., estrategista-chefe da Lúmen Strategy, vai além ao afirmar que essa integração está redefinindo o próprio conceito de varejo. "Estamos falando de uma mudança estrutural na relação entre empresas e consumidores. O omnichannel deixou de ser diferencial para se tornar pré-requisito básico em qualquer estratégia de varejo que pretenda sobreviver nesta década", alerta.

Desafios, impactos sociais e hiperconectividade

A implementação dessa estratégia, no entanto, esbarra em desafios complexos que vão desde questões tecnológicas à cultura organizacional e Rampazzo destaca a dificuldade em manter consistência de mensagem e experiência através de canais com naturezas tão distintas. "Um story no Instagram precisa comunicar a mesma essência da marca que um folheto impresso ou um anúncio de TV, mas cada um exige linguagens e formatos completamente diferentes", avalia o executivo.

De acordo com o CEO da Godiva Propaganda, a velocidade das mudanças no comportamento do consumidor representa outro obstáculo significativo para empresas que investem em estratégias omnichannel. "Plataformas emergentes como TikTok e novas funcionalidades em apps de mensagem estão constantemente redefinindo como as pessoas interagem com as marcas. A explosão do social commerce, onde a jornada de compra acontece inteiramente dentro de redes sociais, é um exemplo disso. As empresas precisam desenvolver capacidade de adaptação contínua, o que exige investimento constante em treinamento e tecnologia", observa Rampazzo.

Vieira Jr. chama atenção para os impactos sociais dessa hiperconectividade. "Estamos criando uma geração que espera respostas imediatas e soluções sob demanda em todos os aspectos da vida. Por um lado, isso traz conveniência sem precedentes. Por outro, estamos vendo surgir uma nova forma de ansiedade relacionada à expectativa de disponibilidade constante", reflete o especialista da Lúmen Strategy.

Tecnologia e humanização

A tecnologia aparece como elemento central para viabilizar essa integração e Rampazzo destaca o papel crucial de plataformas de automação de marketing que permitem coordenar campanhas através de múltiplos canais de forma sincronizada. "A inteligência artificial está revolucionando a capacidade de personalização em escala. Hoje já é possível oferecer recomendações únicas para cada cliente baseadas em seu histórico completo de interações, independente do canal", afirma.

Para o CEO da Godiva Propaganda, a realidade aumentada começa a ganhar espaço como ponte entre experiências digitais e físicas. "Algumas redes de varejo já permitem que o cliente visualize como um móvel ficaria em sua casa através do smartphone antes de ir à loja. Essa integração entre o virtual e o concreto é onde veremos as inovações mais disruptivas nos próximos anos", prevê Rampazzo.

Vieira Jr. alerta, no entanto, que a tecnologia por si só não garante sucesso. "O verdadeiro diferencial estará na capacidade de humanizar essas interações. Chatbots precisam ser mais do que eficientes, mais empáticos. Promoções personalizadas devem ser como sugestões úteis, não como invasão de privacidade", ensina o estrategista-chefe da Lúmen.

Equilíbrio entre personalização e privacidade

O futuro do omnichannel, segundo os especialistas, aponta para experiências ainda mais imersivas e contextualizadas. "Imagine entrar em uma loja física onde o aplicativo no seu smartphone reconhece exatamente onde você está e oferece informações relevantes sobre os produtos ao seu redor. Ou receber uma oferta especial no exato momento em que você passa na frente de uma loja, baseado em suas pesquisas recentes", projeta Rampazzo.

Segundo Ângelo Vieira, o mais importante é pensar o omnichannel além das vendas. "Logística, pós-venda, fidelização. Todos esses elementos precisam ser integrados. Um cliente que compra online deve poder devolver na loja física sem burocracia. Quem faz perguntas no chat deve encontrar respostas consistentes se ligar para o SAC", sugere.

O executivo também destaca que à medida em que a integração de dados se aprofunda, surgem novas questões éticas e de privacidade. "Quanto mais dados coletamos para personalizar experiências, maior nossa responsabilidade em protegê-los e usá-los de forma ética. O equilíbrio entre personalização e privacidade será um dos grandes debates dos próximos anos", pondera Vieira Jr.

Conexões genuínas

Para as empresas que atuam no varejo, a mensagem dos especialistas é clara: a jornada omnichannel não tem volta. "Estamos falando de uma reengenharia completa dos processos de negócio. Não se trata apenas de adicionar canais digitais ao mix existente, mas de repensar toda a operação para colocar o consumidor no centro, independente de como, quando e onde ele escolha interagir", analisa Rampazzo.

Vieira Jr. finaliza com uma reflexão sobre o papel humano nesse cenário cada vez mais tecnológico. "No meio de tanta inovação, precisamos preservar o que é essencial: a capacidade de criar conexões genuínas. O melhor omnichannel será aquele que conseguir aliar a eficiência da máquina com a empatia humana", completa o estrategista.

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