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Sustentabilidade
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Por Redação
17 de abril de 2025

Como os supermercados estão combatendo o desperdício de alimentos em datas comemorativas

De algoritmos que preveem demanda a doações estratégicas, o varejo alimentar brasileiro usa tecnologia e inovação para reduzir perdas e garantir que alimentos cheguem ao consumidor

Enquanto 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas globalmente a cada ano, o Brasil enfrenta seu próprio paradoxo: supermercados perdem R$ 7,6 bilhões anualmente com frutas, legumes e carnes que apodrecem nas gôndolas, segundo a principal entidade que representa os supermercados brasileiros. Em datas comemorativas, como Dia das Mães e Natal, o desafio se intensifica com a alta demanda por produtos frescos, combinada à imprevisibilidade do consumo, o que transforma estoques em um risco calculado, mas não intransponível.

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Nos últimos anos, o setor varejista tem respondido a esse dilema com uma mistura de inteligência artificial (IA), parcerias com ONGs e estratégias criativas de comercialização. Desde 2024, redes como a Hortifruti Natural da Terra (HNT) já reduziram o desperdício em 1,7 milhão de itens graças a algoritmos de previsão de demanda.

Enquanto isso, startups como a israelense Wasteless apostam em preços dinâmicos para produtos perto do vencimento, reduzindo perdas em até 32,7%. O resultado é um movimento que une eficiência operacional, responsabilidade social e, não menos importante, sobrevivência financeira em um setor com margens apertadas.

IA do atendimento ao estoque

Para Daniel Milagres, CMO da Hortifruti Natural da Terra, a chave está na integração de tecnologias que vão além da simples automação. “A IA é uma aliada da gestão como um todo. Utilizamos chatbots para atendimento, algoritmos para personalizar ofertas e modelos preditivos que analisam vendas semanais de todas as unidades. O sistema, alimentado com dados em tempo real, ajusta o abastecimento diariamente, evitando tanto o excesso quanto a falta de produtos”, explica.

Mas, segundo o executivo, mesmo com avanços importantes, a tecnologia não substitui as pessoas. “O olho no olho é fundamental para perceber os anseios dos clientes e garantir qualidade. A rede também investe em iniciativas como a ‘Gôndola Pegar ou Pegar’ e ‘Sacolas Surpresas’, que oferecem produtos próximos do vencimento com descontos. O cliente participa orgulhosamente dessa jornada de combate ao desperdício”, afirma.

Milagres destaca que a estratégia da rede inclui parcerias perenes com ONGs como Mesa Brasil e Prato Cheio, que redistribuem alimentos para comunidades em insegurança alimentar. “Em períodos sazonais, como Dias das Mães, a HNT amplia essas colaborações. Estamos sempre avaliando novas parcerias. É uma cadeia que vai do produtor ao consumidor final”, diz o CMO.

Riscos e soluções legais

Enquanto redes como a HNT focam na prevenção, o risco de produtos vencidos nas gôndolas persiste como um pesadelo para o varejo desde 1990, quando a Lei nº 8.137 passou a criminalizar a venda de itens fora da validade, punindo os estabelecimentos com multas que variam de acordo com o porte da empresa. Para evitar infrações, o setor adota práticas como o método FIFO (“primeiro a entrar, primeiro a sair”) e sistemas de gestão de validade.

No Grupo Máximo Supermercados, por exemplo, um software próprio da rede consegue monitorar lotes desde a compra até a gôndola e, de acordo com o diretor da rede, diariamente são identificados itens em risco e, nesse caso, os preços são rebaixados tornando os produtos vencidos uma exceção nas lojas.

Se a tecnologia já ajuda a evitar excessos, também está transformando o destino dos alimentos que estão sendo desperdiçados”. A startup Wasteless, apoiada pelo Fórum Econômico Mundial, usa IA para calcular descontos progressivos em produtos perecíveis e, segundo o CEO da empresa, os algoritmos analisam demanda, estoque e até o tráfego nas lojas para sugerir preços em tempo real.

Iniciativas para fechar o ciclo

A solução já reduziu desperdício em 32,7% em uma rede varejista na Espanha e busca atingir 80% até 2030, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. No Brasil, a entidade representante dos supermercados defende o conceito “Best Before” (“melhor consumir até”), comum na Europa, já que o modelo atual favorece o descarte precoce.

A medida ganha urgência diante de dados da Pesquisa Eficiência Operacional, que mostra que 43% das perdas no varejo são causadas por prazos de validade. Mesmo com todas as precauções, parte dos alimentos se torna inevitavelmente não consumível. É aí que entram iniciativas como a compostagem de resíduos orgânicos, adotada pela HNT em parceria com a Ciclo Orgânico. “Estudamos biorrefinarias e embalagens biodegradáveis para fechar o ciclo”, aponta Milagres.

Para o varejo, o combate ao desperdício é um quebra-cabeça de múltiplas peças, entre elas estão IA, treinamento, políticas públicas e, acima de tudo, colaboração. “Sozinhos, não resolvemos o problema. Precisamos de produtores, fornecedores e consumidores engajados”, conclui o executivo.

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