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Economia
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Por Redação
20 de outubro de 2025

Reforma Tributária: veja os investimentos que os supermercados precisam fazer até janeiro de 2026

Setor precisa investir em tecnologia, revisão de processos e capacitação de equipes para garantir conformidade e competitividade no novo modelo tributário

A contagem regressiva para a implementação da reforma tributária já começou, e o setor supermercadista tem pouco mais de um ano para se adaptar à nova realidade fiscal. A partir de janeiro de 2026, inicia-se a transição para o modelo do IVA Dual — composto pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de âmbito federal, e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de caráter estadual e municipal — que substituirá tributos como PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS.

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Segundo a advogada tributarista Mary Elbe Queiroz, presidente do Centro Nacional para a Prevenção e Resolução de Conflitos Tributários (Cenapret), a complexidade da mudança exige conta com três pilares determinantes para que o setor entre na nova fase com segurança e eficiência. “Os supermercadistas terão de direcionar investimentos prioritariamente para adequação tecnológica, otimização de processos e capacitação de equipes. O objetivo é garantir segurança fiscal e eficiência operacional já no início da transição, reduzindo riscos de perdas financeiras e autuações em um setor que já opera com margens apertadas”, afirma.

Pilares fundamentais na fase de transição

O desafio é grande: durante a fase de convivência entre os dois sistemas tributários, que se estenderá até 2033, a complexidade das operações tende a aumentar. Para a advogada, uma modernização tecnológica ampla é o primeiro passo. Isso inclui atualização ou troca de ERPs, integração de softwares fiscais, digitalização de notas fiscais e automação do SPED. “A tecnologia será indispensável para integração de dados e conformidade fiscal”, explica Mary. “Além disso, contratos terão de ser revistos e prazos de compras e vendas ajustados para evitar impactos no fluxo de caixa”, ressalta.

O segundo pilar, de otimização de processos, também ganha relevância. A reforma exige uma revisão completa da rotina de apuração tributária, padronização de cadastros e centralização de informações. O objetivo é minimizar erros e garantir que as empresas estejam preparadas para lidar com o crédito amplo previsto pela nova legislação — inclusive sobre a compra de ativos, como máquinas, equipamentos e soluções de TI. “Essa mudança é um incentivo poderoso”, diz a especialista. “Pela primeira vez, investimentos em ativos e tecnologia poderão gerar créditos tributários, o que reduz o custo efetivo da modernização. Muitos supermercadistas devem antecipar projetos de atualização de sistemas e automação justamente para aproveitar esse benefício já no início da transição”, avisa.

Na mesma linha, Lucas Castro, chief Revenue Officer da empresa de tecnologia Boavista, observa que os supermercados que enxergarem a reforma como uma oportunidade — e não apenas como uma obrigação — terão vantagem competitiva. “Podemos afirmar que tecnologia, otimização de processos e capacitação são a base da preparação para a reforma”, afirma. “A transição para o novo modelo de IVA vai aumentar a complexidade das operações no curto prazo, mas investir nesses pilares é a única forma de transformar essa complexidade em vantagem competitiva.”

Para o executivo, o investimento tecnológico não se limita à compra de softwares: é preciso garantir integração e confiabilidade dos dados. “Os ERPs atuais foram desenhados para a realidade vigente, mas precisarão de ajustes para conviver com dois modelos de tributação ao mesmo tempo. Sistemas de conciliação e inteligência fiscal serão importantes para evitar perdas e dar visibilidade ao negócio”, comenta.

Capacitar é imprescindível

A capacitação de equipes é o terceiro pilar — e provavelmente o mais sensível. A reforma é transversal e afetará não apenas os departamentos fiscal e contábil, mas também áreas como compras, logística, frente de caixa e gestão. “Não basta treinar o departamento fiscal”, destaca Mary Elbe Queiroz. “Compras, logística e até a operação de frente de caixa precisam estar preparados para lidar com a classificação tributária e a geração de créditos. A alta gestão também precisa compreender os impactos sobre margens e preços”, pontua.

Lucas Castro complementa. “O instinto natural é pensar apenas em contabilidade e fiscal, mas a realidade é mais ampla. O setor financeiro, a tesouraria e até gestores comerciais e de loja precisam entender que margens e precificação vão mudar. Se apenas uma área dominar o tema, o risco é o desalinhamento interno.”

Outro componente essencial da preparação é a Inteligência Artificial (IA), que tende a ter papel decisivo na nova era fiscal. A IA pode realizar cruzamentos automáticos de notas fiscais, identificar inconsistências em cadastros de produtos e sugerir classificações corretas em tempo real.

De acordo com a advogada tributarista, a IA reduz riscos de autuações e libera as equipes para decisões estratégicas, assumindo papel fundamental para dar previsibilidade e reduzir erros em um sistema que será novo para todos.

O investimento em IA também será crucial para a conciliação financeira e governança de dados. “O volume de informações fiscais e operacionais de um supermercado é enorme. Ferramentas inteligentes podem identificar divergências e antecipar problemas antes que se transformem em perdas financeiras. Isso reduz a dependência de verificações manuais e aumenta a segurança da operação”, sustenta Castro, da Boavista.

Riscos e projeções pós-implementação

Os riscos de não se preparar são significativos. A perda de créditos tributários, erros no cálculo do IVA Dual e multas por inconsistências estão entre os principais. Sob o ponto de vista dos especialistas, supermercados que não se modernizarem tendem a perder margem e competitividade. O risco imediato é perder dinheiro sem perceber — seja por créditos não aproveitados ou recolhimento em duplicidade. Com margens tão apertadas, qualquer ponto percentual faz diferença.

Já no cenário pós-reforma, a diferença entre quem prospera e quem enfrenta dificuldades estará na capacidade de gestão tributária e de controle de dados. “Quem tiver sistemas integrados, dados organizados e processos claros vai conseguir aproveitar créditos, precificar melhor e tomar decisões rápidas”, diz Castro. “A velocidade na adaptação tecnológica e fiscal será o principal fator de competitividade no varejo alimentar”, completa Mary.

No pós-reforma, supermercados que se anteciparem às mudanças poderão não apenas simplificar obrigações, mas também aumentar rentabilidade. O novo modelo tributário tende a premiar empresas que dominarem o controle de créditos e ajustarem rapidamente suas estruturas de preços, já que a transparência sobre custos e tributos será maior. Com isso, o setor poderá ganhar eficiência operacional e previsibilidade financeira — fatores que historicamente sempre foram um desafio no varejo alimentar.

Por outro lado, quem se atrasar na adaptação tecnológica e na revisão de processos pode enfrentar impactos duradouros. A ausência de sistemas integrados e governança tributária robusta tende a gerar perda de margem, falhas no aproveitamento de créditos e insegurança nas tomadas de decisão. A reforma inaugura um cenário em que a gestão tributária deixa de ser apenas uma obrigação legal e passa a ser uma ferramenta estratégica de competitividade.

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