
Por Redação
16 de junho de 2025Supermercados do Norte: conexão íntima com a Floresta Amazônica e os rios da região são os diferenciais
Mix à base de peixes amazônicos e relação próxima com supermercadistas predominam no varejo local, cujo maior desafio é a logística complexa
Formado pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, o Norte é a maior região do país em extensão territorial. Resistentes aos apelos da automação, seus supermercados se destacam justamente pela “cara de Brasil” que ostentam em seus corredores e gôndolas, muitas ofertas de peixes, frutos típicos e bebidas que só é possível encontrar por lá.
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Na opinião de Raquel Carvalho, executiva comercial da ASAS (Associação Acreana de Supermercados), os supermercados da região Norte são únicos pela sua forte conexão com a cultura regional e com os hábitos de consumo locais. Eles refletem uma diversidade rica de ingredientes amazônicos e valorizam o pequeno produtor. “Além disso, a logística diferenciada imposta pela geografia da região torna a operação dos supermercados um verdadeiro desafio de eficiência e adaptação”, revela.
Ela também aponta como diferenciais a forte presença de supermercados de médio porte com gestão familiar e lojas com estrutura física que, muitas vezes, precisam se adaptar ao clima quente e úmido que toma conta do Norte boa parte do ano. “Em muitos casos, os supermercados do Norte adotam um layout mais compacto e funcional, priorizando áreas refrigeradas e setorização que facilite a circulação em climas mais quentes”, diz.
Mix que vem da natureza
Para Claudio Felisoni de Angelo, presidente do IBEVAR (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo) e idealizador do MBA Varejo da FIA Business School, o que torna os supermercados da região Norte verdadeiramente únicos é a conexão íntima com a Floresta Amazônica e os rios da região.
O resultado é um mix de produtos bem peculiar nos supermercados. Salta aos olhos, em primeiro lugar, a oferta de produtos regionais frescos como peixes amazônicos, como tambaqui, pirarucu e filhote, e farinhas de mandioca, tapioca, tucupi, jambu e cupuaçu. “Bem diferente de qualquer outro lugar no Brasil, no Norte é possível encontrar o açaí puro na forma tradicional, sem aditivos comuns em outras regiões”, diz Felisoni.
“A castanha-do-pará também está presente nos supermercados da região de diversas formas. E há um consumo significativo de bebidas artesanais e regionais, como vinhos de frutas locais e refrigerantes típicos. O sortimento é adaptado às tradições culturais, incluindo produtos específicos para datas festivas locais”, conta Raquel, da ASAS.
A compra presencial ainda é o principal formato, especialmente em bairros e cidades do interior. No entanto, o delivery vem crescendo nas capitais - principalmente via WhatsApp ou aplicativos locais, não necessariamente por grandes plataformas. O autosserviço tradicional ainda predomina.
O pagamento via cartão de crédito e débito é o mais utilizado, seguido pelo Pix, que teve rápida adesão pela praticidade. “Em áreas mais remotas, o pagamento em dinheiro ainda é comum, especialmente em comércios menores ou quando há instabilidade no sinal de internet”, fala a representante da Associação Acreana de Supermercados.
O consumidor da região Norte valoriza produtos frescos, regionais e não industrializados. É muito fiel a marcas locais e tem costumes de compra mais semanais do que mensais, principalmente por conta de feiras livres e hábitos culturais. As pessoas também gostam de produtos a granel, principalmente farinhas e grãos, e costumam ter uma relação mais próxima e afetiva com os varejistas locais.
Frete caro e transporte fluvial
O Norte é, sem dúvida, a região onde o varejo mais precisa ser estratégico para operar. A logística, muitas vezes fluvial, exige planejamento avançado e cadeias de suprimento extremamente coordenadas. Complexa e cara, devido às longas distâncias e à dependência de transporte fluvial em muitos trechos, a logística é o principal entrave do varejo alimentar nortista.
O custo elevado de frete encarece os produtos industrializados em relação ao restante do país, enquanto é constante a preocupação com a manutenção de produtos perecíveis em climas quentes e úmidos. “Além disso, eu diria que muitos supermercados competem diretamente com feiras e mercados municipais vibrantes, algo não tão intenso no Sudeste, por exemplo”, observa o presidente do Ibevar.
Para Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o diferencial mais importante é a simbiose com o entorno: supermercados não são apenas pontos de venda, mas centros de abastecimento comunitário. “Itens como farinha de mandioca, peixes locais, frutas amazônicas e cosméticos artesanais são mais do que produtos, são parte da identidade cultural. A gestão, portanto, precisa combinar eficiência operacional com sensibilidade social”, pontua.
Força local
No Norte, redes como DB Supermercados, Grupo Nova Era, Grupo Formosa e Rodrigues Supermercados mostram como é possível crescer mantendo vínculos locais e inteligência logística. A proximidade com o território e a valorização da cultura local tornam o relacionamento mais relevante do que a automação - preocupação de lojas de outras regiões.
As redes nacionais como Atacadão e Assaí têm uma presença significativa, mas com o sortimento também adaptado aos gostos locais para concorrer com esses supermercados regionalizados, o que exige dos supermercadistas independentes mais criatividade e eficiência para se manterem competitivos.