Entrevista
Entrevista 18 de abril de 2022

Após a renúncia de posição na BRF, Sidney Manzaro faz balanço de seus anos na companhia

O executivo, que teve duas passagens pela empresa, explana sobre a sua saída, os desafios do mercado de consumo e os planos pós-30 de junho

Na última semana, Sidney Manzaro renunciou ao cargo de vice-presidente do Mercado Brasil na BRF. O executivo ficará na Companhia em um período de transição até o dia 30 de junho, quando será substituído por Manoel Martins, atual diretor comercial. Após 42 anos de carreira, onde repetiu 14 anos na Ambev, 14 anos na BRF e o total de 14 anos em mais quatro empresas, o executivo entende que, após contribuir para o crescimento da receita da BRF em 50% e atingir um faturamento de R$ 24,8 bi, lançar mais de 200 produtos, estruturar canais, readequar as marcas e inovar em categorias, este é o momento propício para se lançar a novos projetos. A seguir em entrevista exclusiva à SuperVarejo, o executivo, que teve duas passagens pela BRF, uma de 2005 até 2015 e a última, de 2018 até 2022, explana sobre a sua saída, os desafios do mercado de consumo e os planos pós-30 de junho.     

Como se deu essa decisão de renunciar ao cargo na BRF?

Quando eu retornei à BRF, em 2018, combinei um período de aproximadamente quatro anos com o Pedro Parente, presidente do Conselho de Administração, e o Lorival Luz, CEO Global, que eu entendia ser o suficiente para ajudar a colocar a Companhia no lugar e no patamar superior. Então, depois de 4 anos de ter entregue e bem entregue os números e os compromissos de reputação e governança e formado sucessores, chego ao fim do ciclo com o sentimento de dever cumprido.

Este era um dos seus compromissos?

Sim, formar um time que eu pudesse ter uma tranquilidade de que o trabalho tivesse sequência com as pessoas. Esse é um trabalho que eu tenho um baita de orgulho de ter estruturado com o meu time, com os meus pares e com o nosso CEO Lorival Luz.

Quais foram os principais desafios ao longo do tempo em que ficou no cargo e por quê?  

O que eu acabei de comentar foram os meus principais desafios, porque por trás disso tem muita coisa para que se possa recolocar os números no patamar desejado. O trabalho que foi feito é um turn around completo começando pelo engajamento dos times, que foi, talvez, o principal desafio de fazer com que as pessoas se sentissem novamente importantes dentro da BRF e que a BRF fosse importante para elas. Além disso, recuperar a boa reputação junto aos clientes.

E o posicionamento das marcas?

Trabalhamos bem isso. Temos a maior marca de alimentos do Brasil, a Sadia, e também a Perdigão e a Qualy. Trabalhamos bem o posicionamento das marcas e o portfólio de produtos, para que pudéssemos conversar com todas as gerações, em todas as ocasiões de consumo. Isso exige um tempo muito grande. Vemos que todas as marcas cresceram em preferência, lançamos mais de 200 skus nesse período, levamos a receita de inovação de 2% para 7%, trazendo diferentes soluções para os consumidores. Aqui o varejo foi essencial para conectar estas inovações com os consumidores.

E a questão do serviço?

Também trabalhamos forte para trazer uma melhor qualidade de serviço, melhores indicadores operacionais para atender os mais de 350 mil clientes com alto nível. Criamos um ambiente de transformação digital B2B conectando com plataformas digitais, avançando nas comunicações digitais, conversando com os e-commerces dos varejos, trabalhando de uma forma bem acertada e levando inovação para o varejo. Esse é um trabalho de um time todo, o time BRF. 

Isto te proporciona a sensação de dever cumprido?

Sem dúvida. Os números falam por si próprio, nós crescemos mais de 50% em receita, atingindo R$ 24,8 bi, e crescemos em rentabilidade, para que isso pudesse ser feito. Entendo que o compromisso que eu assumi foi entregue e agora tem muita coisa para fazer, muitos desafios, mas o time que está aqui tenho certeza de que vai continuar o trabalho e vai evoluir ainda mais. Estou falando de superação, daquilo que nós nos propusemos a fazer, fizemos bem feito. Ainda há muito por fazer, mas tenho um grande orgulho do que fizemos.

E a reformulação e a renovação das marcas?

Esse é um ponto importante. Temos demandas diferentes, o consumidor adquire novos desejos, novos hábitos e temos marcas que falam com todos, desde o flexitariano (alimentação reduzida de origem animal) até os amantes do bom churrasco. Temos linhas como Veg&Tal e a praticidade dos nossos pratos prontos, como o Mac?nCheese. Temos Na Brasa com produtos para churrasco, uma linha de saudabilidade como Livre&Lev, produtos orgânicos como os frangos, a linha Bio, com rastreabilidade dos produtores, entre outros. Então é mais do que idade, porque muitas vezes você tem o mesmo consumidor que de manhã quer ter uma refeição super saudável e à noite quer comer pizza e hambúrguer. A BRF está presente exatamente em todos estes momentos.

São todas as gerações e todas as ocasiões que se misturam?

Isso. Esse é o desafio das grandes marcas, das marcas que estão há mais tempo no mercado, como elas se reinventam, como elas se reconectam com os novos consumidores, com os novos hábitos. Fizemos um trabalho importante de buscar os consumidores e temos os consumidores que conhecem muito, são apaixonados pelas nossas marcas, mas nos mais jovens, nós tínhamos uma lacuna e trabalhamos muito forte para nos conectar com eles, principalmente a marca Sadia se conectando com a NBA, com o Lollapalooza, com o CCXP, ou seja, o maior crescimento de preferência no cluster da Sadia é o jovem. Avançamos com uma comunicação mais moderna e nos reconectamos com todos os consumidores, tendo como principal desafio o segmento jovem. Rejuvenescemos o portfólio com Mac?nCheese, frangos empanados, Veg&Tal, pratos prontos com Speciale, ou seja, temos um trabalho de reposicionamento na mídia e um portfólio que entrega verdade para este público.  

Este é o grande desafio para as indústrias de alimentos atualmente?

Acredito que sim. Para o segmento de consumo, acredito que este é o grande desafio, de se ter marcas que possam conversar com esses diferentes consumidores. Esse é o grande desafio de todas as marcas de consumo, como a indústria conversa com esses diferentes consumidores em todos os momentos, em todas as ocasiões.

De que maneira deixa o seu cargo e a companhia?

Faço a transição até o dia 30 de junho e, a partir daí - quero me dedicar a pegar essa minha experiência de negócios, de liderança, e conectar a novos projetos e novas ideias. Tem muita gente boa, muitos novos empreendedores, e eu acredito que posso ajudar bastante neste contexto. Quero ajudar no crescimento e estruturação destes negócios. É o momento que eu sei que posso aprender mais com essas empresas e posso agregar a elas. Esse é o meu grande projeto. Para fazer isso preciso dedicar tempo e qualidade para escolher estes projetos, que vão ter fit com os meus próximos anos.

Quais são os seus planos e em quais áreas?

Tenho muitas ideias e muitas coisas legais que estão acontecendo. Preciso me debruçar para eu entender o que faz sentido para as empresas e para mim. Tenho uma enorme gratidão pelos 14 anos em que estive na BRF. Agora, está na hora de me conectar com novos projetos.

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