Varejo
Varejo 24 de fevereiro de 2022

As estratégias para o varejo se reinventar em uma realidade transformada pela pandemia

Elói Assis, diretor executivo de Varejo da TOTVS, dá um panorama sobre quais as melhores táticas para se explorar no setor nos próximos anos

O varejo brasileiro se transformou bastante nos últimos dois anos por influência, e consequência, da pandemia. Mas, a transformação não ficou apenas deste lado do balcão, ela também chegou aos consumidores. A geração Z, e outras gerações, mudaram seus hábitos de consumo e seus perfis, dando maior valor às formas de se relacionar com as marcas.

Neste contexto, a tecnologia ampliou os horizontes de pequenos, médios e grandes varejistas, que investiram em soluções para aumentar sua produtividade, expandir os negócios e marcar presença no ambiente virtual, comunicando-se com o outro lado. E, são muitas as estratégias voltadas para a ampliação dos negócios online. Porém, com o avanço da vacinação e a expectativa da queda das restrições sanitárias, é possível uma volta gradativa das compras e experiências físicas. Mas é certo: nada será como antes, não voltaremos para o lugar que estávamos antes de março de 2020.

Para quem pensa em tecnologia atrelada ao varejo apenas nos meios digitais, está enganado. Agora, para melhorar a experiência dos consumidores nas lojas físicas, a tecnologia é a resposta mais uma vez. E há uma grande diversidade de ferramentas que podem ser exploradas neste sentido.

É neste ponto, por exemplo, que a implementação da rede 5G acelerará ainda mais essa transformação, aumentando a conectividade móvel e impulsionando uma nova evolução das lojas físicas, a partir do uso total da capacidade das tecnologias e ferramentas inteligentes aplicadas aos negócios. O 5G melhora e impulsiona a adoção de dispositivos de IoT (Internet das Coisas) e, com isso, viabiliza sensores e aparelhos para monitorar o movimento das lojas e das prateleiras, permitindo a gestão combinada com o estoque, e dispositivos conectados também serão capazes de sinalizar a manutenção preventiva da loja, por exemplo.

Para os varejistas que possuem colaboradores no atendimento direto ao cliente, o uso de tablets e smartphones será ampliado, com uma conexão e a disponibilidade de dados ainda mais rápida e com mais mobilidade. Totens de autoatendimento, com adoção crescente no varejo brasileiro, também poderão ter conexão e acessibilidade ampliadas. E para o cliente, existirão inúmeras oportunidades de inovar na experiência do cliente na loja, como realidade aumentada e beacons.

Outra possibilidade a ser explorada é a Realidade Virtual, em que os varejistas conseguem criar ambientes 3D para que os clientes possam visualizar projetos, lojas e produtos de forma verossímil ao real, embora esse espaço ainda tenha gerado mais ?buzz? do que resultados. E, por fim, posso ainda mencionar toda a parte de distribuição e logística, que poderá se tornar mais automatizada, inteligente, rápida e a custos mais baixos.

Paralelo a este cenário que nos espera, é importante que todas essas tecnologias e formatos de experiências estejam alinhados a uma estratégia sólida de omnicanalidade. Já venho falando desde antes da pandemia que estaríamos vivenciando a era da policanalidade, e que essa era só atingiria seu potencial se fosse tratada de forma omnicanal, e foi o que aconteceu: o varejo explorou a integração de seus múltiplos canais e da experiência do consumidor off e online. Agora, que a policanalidade é uma realidade, essa omnicanalidade se consolida para que possamos escalar cada vez mais os resultados.

As grandes varejistas entenderam a necessidade de uma experiência unificada e fluida, em que online e offline se convergem para proporcionar uma jornada mais completa. Nesse sentido, alguns conceitos foram aplicados e se destacaram com popularidade. Na NRF 2022: Retail?s Big Show, por exemplo, a Nike reforçou a criação de diferentes estilos e formatos de lojas, planejadas para atingir e agradar a diferentes públicos-alvo. A marca já adotou o sistema pick and go, em que o cliente escolhe um produto na loja física a partir da leitura do código de barras pelo próprio celular, no aplicativo da marca, para obter informações como preço, avaliações, especificações técnicas, etc. Ao fechar a compra, com o produto no carrinho, basta fazer o pagamento na própria plataforma e, em poucos minutos, ele é liberado. Na Nike House of Innovation, por exemplo, os fãs da marca também podem utilizar o aplicativo para customizarem e criarem seus próprios tênis.

Outra grande marca que uniu tecnologias à customização foi a Sephora. A varejista de produtos de beleza lançou um aplicativo com múltiplas funções, criando uma rede social exclusiva para clientes de seu programa de fidelidade. Dessa forma, a loja pôde aplicar recursos de realidade aumentada, chats online para que os consumidores troquem informações e outras experiências que agreguem na jornada de compras.

Ao acompanhar o recente evento da NRF 2022, pude perceber outras preocupações e tendências para este ?novo momento? -- lê-se: transformado pela pandemia. Com o modelo híbrido de trabalho e rotinas mais flexíveis, esse cenário dá espaço para as ?cidades de 15 minutos?. De forma mais prática, é a pessoa aproveitando mais os comércios e serviços que estão próximos de suas casas, o que vai levar a um crescimento nas lojas de proximidade de grandes marcas, mais lojas com clique e retira e maior penetração de dark stores e dark kitchens nos bairros, para viabilizar a logística de 15 minutos. Adicionalmente, lojas que oferecem serviços aos seus consumidores também estão entre os destaques, como alimentação (cafés ou restaurantes) ou outros serviços, relacionados ou não com o segmento do varejista, para que os clientes aproveitem mais o momento de compras e criando relevância para a loja física, num domínio em que o digital não consegue competir.

Além de tudo isso, fiquem de olho no metaverso. Uma nova tendência que, assim como a Realidade Virtual em loja física, tem o potencial de impactar significativamente a loja digital e as realidades de consumo como conhecemos. Entretanto, ainda estamos nos primeiros momentos de compreender como o varejo será impactado.

Fato é que os consumidores mudaram sua forma de consumir e estão cada vez mais privilegiando experiências, relacionamento e avaliando o propósito das marcas que consomem. É importante que os varejistas entendam esse novo cenário, mas ainda assim, voltem-se para a análise do seu público-alvo e dos ?advogados da marca?. São para eles que as inovações precisam funcionar, a fim de retê-los e pouco a pouco construir uma nova legião de consumidores. A tecnologia está disponível para apoiá-los nessa reinvenção.

Elói Assis é diretor executivo de Varejo da TOTVS

Deixe seu comentário